Sociedade do Cansaço é para ser lido como um alerta filosófico e social
Saudações, Leitores!
Sociedade do Cansaço (Müdigkeitsgesellschaft, 2010), escrito pelo filósofo sul-coreano radicado na Alemanha Byung-Chul Han, foi uma leitura diferente das que costumo trazer por aqui. Com apenas pouco mais de 100 páginas (e sendo minha edição um formato de livro de bolso), esse pequeno livro carrega uma densidade filosófica imensa, que exige atenção, tempo e, principalmente, disposição para mergulhar em reflexões sobre a sociedade contemporânea, o sujeito moderno e a maneira como adoecemos psiquicamente no atual sistema neoliberal.
Antes de mais nada, é interessante pontuar que Sociedade do Cansaço não é um livro para se ler rapidamente ou com desatenção. Ele é filosófico em sua essência: sua linguagem é densa, abstrata e, por vezes, complexa, pois é cheia de referências a filósofos e escritores densos, mas ainda assim gostei bastante da leitura, justamente por me provocar uma série de reflexões sobre o mundo em que vivo, meus hábitos e a forma como percebo o tempo, o trabalho e até mesmo o lazer.
Nesta obra, Byung-Chul Han propõe a tese de que vivemos numa sociedade que trocou a repressão pela positividade, ou seja, não somos mais forçados por uma figura autoritária a produzir, pois nós mesmos nos exploramos, nos cobramos e nos cansamos. Vivemos a era do “eu posso tudo”, da produtividade sem limites, da necessidade de sermos eficientes o tempo inteiro e, consequentemente, da autocobrança extrema que adoece, não sabemos mais como "pisar no freio" porque nós mesmos nos cobramos uma alta performance. Essa autocobrança é adoecedora!
Em contraponto ao que o escritor e filósofo chama de sociedade disciplinar, que nos reprimia com ordens como “não pode”, “não deve”, Byung-Chul Han nos apresenta a sociedade do desempenho, onde somos constantemente levados a acreditar que “podemos tudo” e, por isso, somos nós mesmos os algozes de nossa saúde física e, sobretudo, mental. Vivemos a era do burnout, da exaustão, da ansiedade, da depressão e da hiperatividade, não mais como sintomas isolados, mas como doenças sociais do nosso tempo.
O livro traz reflexões extremamente atuais sobre como o excesso de positividade, a cultura do “faça mais”, o empreendedorismo tóxico e a hipervalorização do desempenho estão nos empurrando para o esgotamento. E é exatamente isso que torna a leitura tão impactante, mesmo que desafiadora: Byung-Chul Han não escreve para entreter, ele escreve para provocar e nos direciona a refletir sobre nossos atos e nos faz enxergar que somos exatamente como ele está mostrando e que em algum momento entraremos em colapso, a sociedade o ser humano "racional" irá colapsar, perderá a essência humana e de racionalidade para se deter na sobrevivência.
Outro aspecto que merece destaque é como o autor articula ideias de pensadores como Foucault, Freud, Nietzsche e Heidegger com naturalidade, porém, para leitores que não estão familiarizados com a linguagem filosófica, como no meu caso (tive que pesquisar um pouco sobre os filósofos que Han mencionou) isso pode tornar a leitura difícil e exigente. É um livro para ser lido com calma, grifado, relido e refletido, não raro me peguei voltando algumas páginas e parágrafos para tentar compreender melhor o que estava sendo dito, e mesmo assim saí da leitura com a sensação de que muitas ideias ainda ecoariam por dias na minha mente, além do mais tenho total certeza que não absorvi tudo e que este é um livro que precisarei reler, mas vai demorar um pouco para me jogar nessa empreitada porque é uma leitura cansativa, no sentido de ser exigente (atenção, foco, pesquisa).
Apesar da complexidade da escrita, a leitura vale muito a pena. Sociedade do Cansaço é um daqueles livros que, ao final, nos deixa mais conscientes de como estamos vivendo e de como, muitas vezes, somos cúmplices do nosso próprio esgotamento. É uma leitura que abre olhos, que faz pensar, e que nos dá uma sensação incômoda, mas necessária, de que talvez precisemos reaprender a viver de forma mais leve, mais silenciosa, mais humana.
Definitivamente, Sociedade do Cansaço é para ser lido como um alerta filosófico e social. É um livro para quem busca reflexão profunda, para quem está disposto a sair da zona de conforto intelectual e mergulhar nas questões que moldam a nossa subjetividade no século XXI.
Leitura recomendada, mas com uma ressalva: é necessário tempo, atenção e disposição para se deixar transformar por ela. Porque, no fim das contas, talvez só possamos resistir ao cansaço… entendendo de onde ele vem.
FICHA TÉCNICA |
Título Original: Müdigkeitsgesellschaft (Alemão) Autor: Byung-Chul Han Tradutor: Enio Paulo Giachini Gênero: Filosofia. Sociedade. Psicologia. Editora: Vozes Ano: 2010-2024 | 128 págs. País de Origem: Sul Coreano. Alemão. Classificação: +15 Aviso de Conteúdo: Depressão. Ansiedade. Burnout. Hiperatividade. Minha avaliação:⭐⭐⭐⭐(4/5) |
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