Saudações Leitores!
Achei o título de Flores delicado e ao mesmo tempo curioso: por que um título assim? Li a sinopse e fiquei ainda mais cheia de curiosidade, então na primeira oportunidade que tive, mergulhei nesse livro e o resultado falo pra vocês abaixo...
>>> Quer saber mais sobre o livro? Acesse
AQUI.
Flores, Afonso Cruz, São Paulo: Companhia das
Letras, 2016, 272 pág.
Flores foi escrito pelo português Afonso Cruz que, além de escritor, é ilustrador, cineasta e músico. Afonso Cruz já escreveu alguns livros e ganhou alguns prêmios, isto é, sua escrita está sendo reconhecida.
Este é meu primeiro contato com o autor, mas já tive outros contatos com escritores portugueses - sobretudo meu José Saramago - e sempre gostei bastante, algo que me encanta: usamos o mesmo idioma, mas é tão diferente. Um ponto interessante foi a Editora ter mantido o idioma original, ou seja, não temos tradução, no entanto isso não atrapalha em nada: nem narrativa e nem a compreensão.
O livro tem capítulos pequenos que proporciona uma leitura rápida, não obstante, a leitura flui rica em detalhes e reflexões, é uma maneira extremamente interessante de olhar a vida pelos olhos do personagem-narrador da história.
O narrador-personagem é um jornalista que acabou de perder o pai e está passando por uma crise em seu casamento. O personagem é extremamente egocêntrico e individualista, mas preocupado em si do que com qualquer outra pessoa - incluindo sua filha - e no decorrer de sua narração percebemos que ele não passa de um ser humano infeliz e solitário, mas é orgulhoso demais para admitir isso.
"O que interessa agora é: as verdades não
se ouvem, já ninguém quer saber disso... Quando se vive privado de tudo, a
verdade importa, mas, quando a temos em todo o lado, parece uma ficção."
(p.89)
Em contrapartida, a história e a visão de ver o mundo do personagem muda absolutamente quando ele conhece o Sr. Ulme que perdeu a memória devido a uma cirurgia para tratar de um aneurisma e passa a tentar ajudá-lo a resgatar suas memórias investigando sobre a vida do mesmo.
Em contato com o idoso o personagem passa a divagar sobre a vida, os valores, medos e realmente tem a possibilidade de agir diferente, mas os passos do mesmo são curtos e não conseguiu salvar seu casamento e a relação com a filha criança está abalada e estremecida.
"Porque viver não tem nada a ver com isso
que as pessoas fazem todos os dias, viver é precisamente o oposto, é aquilo que
não fazemos todos os dias." (p.70)
Aparentemente a única coisa que passa ater sentido em sua vida é resgatar a identidade do Sr. Ulme, contudo, nem todas as descobertas são boas, e há muitos mistérios envolvendo o passado de Sr. Ulme, que era uma pessoa completamente diferente daquela que é atualmente.
De fato, não esperei o desenrolar que aconteceu, mas fica uma reflexão linda a respeito dos seres humanos, suas escolhas, seu passado, suas memórias e o amor. Se somos resultado daquilo que plantamos, então devemos saber se daremos flores ou se não vamos conseguir florescer. Acerca do personagem principal, gosto de pensar que mesmo egoísta e individualista ele pode ter mudado um pouco, aprendido uma lição... quem sabe o amor espalhe sementes no seu coração.
Minha experiência lendo Flores foi a mais gratificante que eu poderia ter (comentei diversas vezes sobre isso nas redes sociais vinculadas ao blog) e é assombroso o quanto é bonito pegar um livro de um escritor que nunca lemos e nos vermos absorvidos pela leitura, concentrados, reflexivos.
Fico encantada quando me deparo com bons escritos, quando o livro modifica a sua visão. Amo quando tenho nas mãos livros que posso saborear a história, a riqueza da narrativa e a profundidade de cada personagem criado e é exatamente isso que aconteceu enquanto lia Flores.
Esse é o tipo de livro pra quem quer fugir do clichê, do juvenil, do fugaz e quer algo mais adulto, elaborado, bem escrito... que se torne parte da gente.
"A solidão
deve ser a única emoção que não conseguimos partilhar, se o fizermos ela
desaparece." (p.184)