Saudações Leitores!
Ainda sinto uma pontada de dor ao lembrar de À Sombra da Figueira* pois foi um livro emocionante que li e agora venho compartilhar essa experiência com vocês... Confiram a resenha e sintam-se convidados desde já a lerem esse fantástico livro.
À Sombra da Figueira, Vaddey Ratner, São Paulo: Geração Editorial,
2014, 306 pág.
Traduzido por Sandra Martha Dolinsky
A primeira
coisa que me chamou atenção em À Sombra da Figueira (In the Shadow
of the Banyan) foi a capa, então após ler a sinopse
fiquei ainda mais curiosa, um dos fatos que me chamou atenção é a escritora
Vaddey Ratner ser cambojana e ter, em seu romance de estréia, se inspirado em
sua própria situação de vida.
O livro
traz a história de uma garotinha de 7 anos chamada Raami filha do Príncipe
Tigre (da realeza cambojana), que apesar de ter tido poliomielite quando mais
nova e ter algumas limitações de locomoção, vive uma vida agradável com seus
pais e sua irmã mais nova, Radana, numa casa bonita onde tinham uma situação
financeira boa e livres de preocupações e privações materiais.
"Quando você ama uma flor, e de repente ela se vai, tudo desaparece junto. Eu vivia porque ela vivia. Agora ela se foi. Sem ela não sou nada, princesa. Nada." (p.30)
Através da
criança, Raami, que é a nossa narradora, teremos uma narrativa fácil
e doce ficamos a par dos acontecimentos de um dos períodos mais sangrentos do
Camboja, isto é, a ditadura de 1975, quando o Khmer Vermelho tenta transformar
o país em um modelo comunista agrário.
Raami e
sua família são expulsos de casa pelos soldados revolucionários e passam a
viver nos campos onde o Khmer Vermelho determinava e assim viviam como
escravos, além de passarem por fome, medo, humilhações, violências, doenças e
trabalhos forçados. No decorrer da narrativa o pai de Raami se entrega e a
família acaba por se separar e alguns a falecerem.
"_As palavras _disse ele, olhando para mim de novo_ nos permitem fazer permanente aquilo que é essencialmente transitório. Transformar um mundo cheio de injustiça e dor em um lugar bonito e lírico. Mesmo que só no papel." (p.123)
À
Sombra da Figueira é um livro que emociona o leitor e nos faz ver o
quanto o "ser humano" é capaz de brutalidades enormes o quanto
famílias inteiras pereceram nessa ditadura. O que dói mais é que o livro é
narrado por uma criança de 7 anos que não consegue entender toda a confusão que
está acontecendo e ao mesmo tempo passa a amadurecer antes do tempo e a perder
as esperanças. Ao mesmo tempo o livro é bastante poético e incrivelmente doce,
aquela doçura que só encontramos nos olhos de uma criança mesmo nos momentos de
dor.
Sem
dúvida, esse é um dos livros mais incríveis que já li este ano e mexeu
comigo, me deixou tão triste e ao mesmo tempo apaixonada por Raami e por sua
força e coragem. À Sombra da Figueira é a prova de que alguns
livros são escritos, algumas histórias são contadas para nos estapear, nos
fazer cair na real de como o ser humano pode ser capaz de tanta atrocidade e
violência e o quanto deveríamos aprender com estes erros
que destruíram e despedaçaram uma nação, fazendo-a ficar cheia de cicatrizes.
"O amor deve ser simples e claro. Deve existir nas coisas cotidianas que vemos e tocamos. Pelo menos era o que eu pensava... Mas o amor, agora eu sei, se esconde em todos os tipos de lugares, existe no recanto mais triste do coração, e você não sabe quanto realmente ama alguém até que ela se vai." (p.248)