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Resenha: O Fundo é Apenas o Começo - Neal Shusterman

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O Fundo é Apenas o Começo, Neal Shusterman, Rio de Janeiro: Valentina, 2018, 272 pág.
Ilustração: Brendan Shusterman
Tradução: Heloísa Leal
COMPRAR: Amazon

Saudações Leitores!
O Fundo é Apenas o Começo (Challenger Deep) escrito pelo norte americano Neal Shusterman, foi o livro ganhador do National Book Award for Young People's Literature de 2015. O autor também escreveu outros livros publicados no Brasil como: Fragmentados, Desintegrados, O Ceifador e A Nuvem.

Nesse volume, vamos acompanhar a estória do jovem Caden, de 15 anos, que começou a perceber fatos e situações estranhas acontecendo ao seu redor, no entanto, para todas as outras pessoas com quem ele tinha contato, a única coisa estranha era o repentino comportamento diferente de Caden.
"Eis aí uma grande verdade: não há nada feio que não tenha um lado belo."
Caden não consegue mais separar o que é real, do que é imaginação, além disso ele sabe que tem alguém querendo matá-lo, que até mesmo sua família pode ser perigosa, em paralelo a esse "conhecimento" Caden também está vivendo em um outro mundo que aparentemente só existe em sua cabeça.

Os pais de Caden começam a perceber que há algo errado com o jovem e procuram ajuda médica, assim, o garoto, acaba ficando internado no hospital psiquiátrico e lá conhece outros pacientes, que tem muitas semelhanças com os tripulantes do navio de um dos "universos" que Caden criou na sua mente.
"A crise de pânico passou. A sensação insuportável de que alguma coisa horrível está prestes a acontecer diminuiu, embora não tenha cessado totalmente. Mil pensamentos me passam pela cabeça, mas não os sinto como se fossem de fato meus. São quase como vozes. E me dizem coisas."
De fato O Fundo é Apenas o Começo é um livro muito, muito confuso e o próprio leitor sofre um imersão na mente de um esquizofrênico, não conseguindo, nas primeiras páginas, entender o que é real, o que não é, ou mesmo o sentido de toda aquela narrativa. Na realidade, Neal Shusterman, foge completamente do estereótipo ao falar sobre uma doença mental, pois não foca apenas nisso, mas sim nos sentimentos, sensações e emoções.
"Em meio a tudo isso, as vozes na cabeça ainda falam, mas estão chapadas demais para terem muito impacto, e então te ocorre que não é tão diferente assim da quimioterapia. Os oncologistas bombardeiam o organismos com substâncias tóxicas na esperança de aniquilar a doença e deixar o resto vivo. A questão é saber se envenenar as vozes vai matá-las ou se só vai servir para enfurecê-las."
Foi uma sacada muito impressionante do autor em abordar dessa forma, pois serviu como um alerta muito grande sobre qualquer tipo de doença mental, independente de seu rótulo (depressão, ansiedade, esquizofrenia, etc), são doenças silenciosas que muitas vezes só olhos de fora percebem, já que a própria pessoa fica alheia, desse modo, a ajuda é extremamente importante. Caden, nosso personagem, teve sorte de ter pais e amigos que perceberam sua mudança e buscaram ajuda, mas quantas pessoas não tem essa mesma sorte? É um alerta para mantermos atenção e cuidado para com aqueles que amamos e dizemos conhecer.
O Fundo é Apenas o Começo foi uma leitura que fluiu muito bem para mim, a narrativa foi gostosa, os capítulos curtos, os desenhos, toda a composição serviu magistralmente para a fluidez e a quantidade de sensações que a leitura objetivava. Ademais, a própria narrativa tem um tom sarcástico, do tipo humor negro que torna o livro levemente engraçado, apesar da temática pesada.

Sim, isso mesmo, o livro é bem pesado, principalmente para quem já teve ou conhece alguém que teve alguma doença mental, pois embora a aparente leveza, há varias ocasiões que dá um aperto no coração ver todo aquele sofrimento silencioso, inesperado e incompreendido, não tem como esse livro não nos fazer sofrer e mexer com nossos sentimentos.

Para finalizar, consegui ficar ainda mais emocionada após a leitura das "Notas do Autor" quando ele "alerta" que O Fundo é Apenas o Começo não é totalmente uma obra de ficção, mas inspirada numa história real, que ele próprio presenciou e vivenciou de bem perto. Não tem a mínima possibilidade de não se emocionar e com esta informação, perceber o quanto a obra é ainda mais maravilhosa do que aparenta.
"Esquizofrenia, espectro esquizoafetivo, bipolar I, bipolar II, depressão grave, depressão psicótica, transtorno obsessivo-compulsivo, e assim por diante. Os rótulos não significam nada, porque não existem dois casos idênticos. Cada pessoa tem uma evolução e responde ao tratamento de um jeito, de modo que nenhum prognóstico pode ser infalível. No entanto, a raça humana adora compartimentos. Queremos tudo na vida arrumado em caixinhas que podemos etiquetar. Mas o fato de termos a capacidade de etiquetá-las não significa que saibamos o que está dentro delas."

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