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Um Conto para Ser Tempo - Ruth Ozeki (resenha)

sexta-feira, 20 de outubro de 2023


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Um Conto para Ser Tempo foi uma leitura que fiz de maneira despretenciosa e sem muitas informações, mas que acabou me impactando demasiadamente.

Saudações Leitores!

Como este ano me debrucei sobre vários trabalhos de escritores asiáticos, acabei por encontrar o livro Um Conto para Ser Tempo (2013), de Ruth Ozeki, que é uma japonesa-americana (ela nasceu no EUA, mas tem descendência japonesa) e o que me chamou atenção para a autora é que vi que seus romances buscam reunir tanto narrativas de cunho pessoal, questões sociais bem como temas associados à ciência, tecnologia, ambientalismo, raça, religião, guerra e cultura popular mundial. 

É válido ressaltar que Um Conto para Ser Tempo publicado em 2022 pela Morro Branco, trata-se de uma nova edição, pois o volume já havia sido publicado aqui no Brasil em 2014 pela editora Casa da Palavra com o título A Terra Inteira e o Céu Infinito. Dito isso, vamos ao escopo desta postagem: falar da minha experiência de leitura.

Um Conto para Ser Tempo é um livro que podemos considerar de metaficção que possui como característica a multiplicidade do ponto de vista e pode estar presente a contradição e a incoerência, bem como a impossibilidade de separação entre a realidade e a ficção, trata-se de uma transgressão da linearidade narrativa e um convite para que o leitor faça sua própria interpretação crítica e reflexiva sobre o que está sendo narrado. Ademais, essa história pode, muito bem, estar impregnada da vida pessoal da própria autora do livro.

Em Um Conto para Ser Tempo acompanharemos o "encontro" de duas mulheres distintas: Nao, que é uma adolescente nipo-americana de 16 anos que vai lidar com questões de identidade e depressão; e Ruth, uma escritora também nipo-americana que encontra na costa da ilha da Colúmbia Britânica (Canadá), após o tsunami de 2011 no Japão, o diário de Nao. Este diário que a colocará defronte de vários sentimentos e sensações.

O livro, como já elenquei, mistura ficção e realidade de modo que, durante toda a leitura nos defrontamos com emoções e sensações reais, mas também vemos uma áurea meio sobrenatural ao elencar a conexão humana em um tecido do tempo difuso e místico.

No volume vemos Nao tendo que ser arrancada de sua casa no Vale do Silício, Califónia, após seu pai perder o emprego o que levou sua família a voltar para Tóquio. Aqui entra muito a questão de identidade e cultura, pois Nao é uma garota nativa da Califórnia e a mesma se identifica como americana (apesar de conhecer um pouco da cultura japonesa, por conta de seus pais), de modo que irá sofrer muito no Japão, pois se sente alienada no novo ambiente e acha extremamente difícil se relacionar com a parte japonesa de sua identidade, pois ao contrário dos pais que se identificam como japoneses, ela tem um conhecimento limitado ao idioma e conhecimento limitado sobre a cultura japonesa a qual se vê exposta.

No Japão, Nao não é bem recebida pelos colegas da escola que acabam não levando em consideração sua ancestralidade e a tratando apenas como uma garota estrangeira, ou seja, "o outro, por outro lado Nao vai se fechando e se sentindo ainda mais sozinha pelo distanciamento de seus amigos americanos pela ausência de contado e correspondência.

O mais intenso em Um Conto para Ser Tempo é que Nao não tem que lidar apenas com suas lutas sociais e a exclusão dos colegas, bem como o bullying pesado e agressivo (e desmoralizante) que sofre, mas também tem que lidar com a infelicidade familiar, pois seu pai não consegue encontrar emprego no Japão e entra num estado de depressão intenso que o faz tentar suicídio diversas vezes. Nesse meio tempo a mãe de Nao consegue um emprego e passa o dia ausente de casa no trabalho para compensar o desemprego do marido. 

Assim Nao se vê diante da sua própria depressão, solidão e ideação suicida que relata em seu diário, bem como outras experiências dolorosas - nada convencionais - que vivencia em sua adolescência, para completar, em seu diário Nao também almeja fazer um relato de vida de sua bisavó Jiko, uma monja budista com mais de 100 anos de vida. É com a experiência que tem ao passar as férias de verão com Jiko em Sendai que novos conceitos como o zazen são apresentados e fomentados pela monja à sua neta. Essa prática espiritual acaba amenizando toda a dor de Nao e lhe dando um consolo, permitindo que encontre forças para lidar com as situações difíceis, bem como a conectando mais com o lado japonês de sua ancestralidade.

Do outro lado do Pacífico, Ruth, uma romancista que está passando por um bloqueio de escrita, em um de seus passeios pela praia acaba encontrando uma lancheira da Hello Kitty, levada possivelmente pelos destroços do tsunami que atingiu o Japão em 2011. Dentro dessa lancheira está o diário de Nao. Ruth começa a lê-lo e se vê investida na narrativa, sobretudo para destrinchar a existência de Nao, saber se ele está viva, onde vive, assim, toda informação que Nao lança no diário, Ruth acaba pesquisando e buscando mais informações. Ruth começa o propósito de tentar encontrá-la no mundo real e saber se a jovem encontra-se bem e viva. Com as informações de Nao, Ruth acaba encontrando vestígios do pai e da bisavó de Nao online e não polpando esforços e contatos para encontrar a jovem na "vida real".

Um Conto para Ser Tempo é tão bem trabalhado por sua escritora Ruth Ozeki, que entrelaça habilmente elementos filosóficos, como o conceito de "tempo", com o drama pessoal de Nao e as reflexões de Ruth sobre a natureza da existência e da consciência. A escrita é sutil e poética, transportando o leitor para as complexidades das vidas entrelaçadas das personagens.

Além disso, a trama apresenta uma riqueza de temas sociais, incluindo bullying, suicídio, tradição versus modernidade e as complexidades da identidade japonesa. Ozeki aborda essas questões de maneira sensível e provocativa, convidando o leitor a refletir sobre questões profundas enquanto acompanha a jornada emocional e espiritual das personagens.

No entanto, vale ressaltar que alguns leitores podem achar o enredo um tanto complexo demais, com a fusão de elementos narrativos, culturais e filosóficos, podendo tornar a leitura desafiadora para aqueles que buscam uma narrativa linear e direta, além dos temas que já pontuei que podem ser Gatilhos e é necessário cuidado, pois se o leitor não estiver bem, esta leitura pode não ser a melhor opção.

Em suma, Um Conto para Ser Tempo é uma obra que desafia e encanta, oferecendo uma exploração multifacetada da existência humana, do tempo e da interconexão entre as pessoas. É um livro que convida à reflexão e à contemplação, proporcionando uma jornada emocionante e profunda para os leitores dispostos a explorar suas complexidades, no meu caso AMEI demais e até favoritei o volume por ter me deixado tão imersa e engajada.

Sei que meu veredito ficou enorme, mas espero que tenham gostado. Até o próximo post!

FICHA TÉCNICA
Título Original: A Tale for the time being
Autor: Ruth Ozeki
Tradutor: Debora Landsberg
Gênero: Ficção. Drama.
Editora: Morro Branco
Ano: 2008/2022 | 528 págs.
País de Origem: Estados Unidos
Classificação: +18
Aviso de Conteúdo: Ideação ao suicídio. Suicídio. Bullying. Abuso Sexual. Pedofilia.
Minha avaliação:⭐⭐⭐⭐⭐(5/5)

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