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Kim Jiyoung, Nascida em 1982 - Cho Nam-Joo (resenha)

segunda-feira, 11 de julho de 2022

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KIM JIYOUNG, NASCIDA EM 1982 é um excelente livro por despertar e trazer para jogo severas reflexões sobre a vida da mulher coreana

Saudações Leitores!

KIM JIYOUNG, NASCIDA EM 1982 (2016), assinado por Cho Nam-Joo, ex-roteirista de TV é um livro que teve um impacto muito grande na Coreia do Sul gerando uma grande polêmica no ano de publicação (2016), em contrapartida o livro se tornou um fenômeno de venda tanto nacional quanto internacionalmente, o sucesso foi tanto que este ano ele chega nas terras brasileiras, também causando burburinho devido a "febre" do k-pop e k-dramas (doramas / novelas coreanas).

KIM JIYOUNG, NASCIDA EM 1982 coloca em pauta um assunto muito debatido atualmente que é o feminismo, o papel da mulher  na sociedade e quando falamos da sociedade sul coreana - que ainda é muito machista - esse papel se resume, basicamente a casar e ser dona de casa.

"Naquela época, as pessoas acreditavam. Que era responsabilidade dos filhos homens levar honra e prosperidade para a família e que a prosperidade e a felicidade da família dependiam do sucesso deles. As filha sustentavam os irmãos homens com prazer."

Desse modo, o volume traz um bom panorama sobre as questões culturais e sobre o que a sociedade patriarcal da Coreia espera das mulheres, no entanto, vale ressaltar que esse panorama coreano não é muito distante do que observamos no resto do mundo, excetuando países em que as mulheres não são cobradas a deixarem seus trabalhos para cuidar da casa e dos filhos, mas somar o trabalho fora, os cuidados familiares e domésticos.

Deixem-me situá-los no enredo de KIM JIYOUNG, NASCIDA EM 1982, a história é ambientada em Seul e nossa protagonista é Kim Jiyoung, de 33 anos, casada, com ensino superior e que se vê tendo que abdicar de sua carreira profissional em uma agência de marketing para cuidar da filha, do marido e da casa. Um ano após essa decisão, Kim Jiyung passa a apresentar um comportamento estranho, associado talvez a depressão pós-parto e a sobrecarga de uma dona de casa desvalorizada.

"Mesmo aqueles que costumavam ser razoáveis e sensatos degradavam verbalmente as mulheres - mesmo aquelas de quem gostavam."

Jiyoung passa a personificar vozes de outras mulheres, vivas ou mortas que já cruzaram - de alguma forma - seu caminho. Preocupado com o comportamento da esposa o marido a  leva a um psiquiatra. É nesse ínterim que vamos acompanhando capítulo a capítulo a história de Jiyoung em diversas fases de sua vida, desde o seu nascimento - em 1982 - até a "atualidade".

"Desde que se tornar a dona de casa em tempo integral, ela percebia com frequência que havia uma atitude polarizada no que dizia respeito ao trabalho doméstico. Alguns o menosprezavam, considerando-o "vadiar em casa", enquanto outros o glorificavam, considerando-o "o trabalho que sustenta a vida", mas ninguém tentava calcular seu valor monetário. Provavelmente porque, a partir do momento em que colocamos preço em algo, alguém tem de pagar."

Neste momento já quero fazer um adendo sobre a narrativa, pois  KIM JIYOUNG, NASCIDA EM 1982 é um livro bastante descritivo o que pode ser cansativo para alguns leitores, porém, também quero deixar claro que, em momento algum a leitura é enfadonha.

Logo em se nascimento, Kim Jiyoung parte de um lugar de desvantagens, pois na época era comum que se abortassem bebês do sexo feminino em razão da política de controle de natalidade. Sua infância também não foi mais fácil, pois foi marcada pela  predileção do irmão mais novo, mostrando as relações sociais que atravessam gerações e consolidam o machismo estrutural. No decorrer da adolescência e da vida adulta Jiyoung teve que viver com o assédio e que mesmo que já houvesse legislação contra a discriminação de gênero, ela ainda só passava de uma lei sem prática efetiva. Sofre também com a desvalidação de seus medos e opiniões - coisa que torna esse livro universal, afinal é o que cotidianamente, nós mulheres sentimos na pele.

Pode parecer que KIM JIYOUNG, NASCIDA EM 1982 narra a história e a cultura presentes apenas na Coreia do Sul, porém as experiências que lemos nas páginas mostra episódios vividos pelas mulheres em todo o mundo que historicamente e socialmente é machista / patriarcal. 

"Muitas pessoas não querem aceitar o fato de que todas as dificuldades da vida - economia estagnada, custo de vida alto, ambiente de trabalho adverso, por exemplo - afetavam homens e mulheres igualmente."

Não vou dizer que a leitura de KIM JIYOUNG, NASCIDA EM 1982 é fácil, porque não é, sobretudo para as mulheres que em vários momentos irão se identificar, mas por ser um livro majoritariamente descritivo pode não ser o tipo de leitura que agrade a todos, além do viés ficcional, o volume apresenta um viés científico quando durante a trama somos direcionados a notas de rodapé com dados que sustentam a discriminação de gênero no país e dados que refletem marcos históricos, culturais e políticos.

KIM JIYOUNG, NASCIDA EM 1982 é um ótimo livro para traçarmos paralelos culturais e políticos com o Brasil, mas também é um excelente livro por despertar e trazer para jogo severas reflexões sobre a vida da mulher coreana, através de uma narrativa distanciada e fria que intencional ou não acaba sendo um prontuário da personagem que poderia ser qualquer mulher.

"O que você quer de nós? As garotas burras são burras demais, as garotas inteligentes são inteligentes demais e as garotas que estão na média são medianas demais?"

O livro me trouxe um grande impacto e é o tipo de livro que gostaria de reler depois de algum tempo, pois acho que perceberia novas coisas, teria outras sensações com a leitura, portanto, deixo aqui minhas recomendações para quem gosta de uma leitura diferente de tudo o que vemos atualmente.

Para finalizar quero informar que a obra foi adaptada para o cinema em 2019 e chegou a sofrer inúmeras retaliações de grupos antifeministas e conservadores com petições online para que sua exibição fosse proibida.  Sem dúvida, saber disso me deixa ainda mais curiosa para assistir.

Boas leituras e até o próximo post!

FICHA TÉCNICA:
Kim Jiyoung, nascida em 1982
Título Original: 82년생 김지영 (Palsip Yi Nyeon Saeng Kim Jiyeong)
Autor: Cho Nam-Joo (조남주)
Tradutor: Alessandra Esteche
Rio de Janeiro: Intrínseca
Ano: 2022 | 176 págs.

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