Pequena Abelha é o típico livro que traz um tema potente que poderia ter sido melhor trabalhado e acabou se tornando uma leitura frustrante, mas que tem seus méritos (poucos, mas tem)
Saudações Leitores!
Lembro muito fortemente que em 2010, quando Pequena Abelha foi publicado no Brasil teve um hype enorme e por isso adquiri o exemplar e ansiei por ler um livro do britânico Chris Cleave (inclusive até comprei outro livro do autor: Ouro (2013), que agora tenho dúvida se irei lê-lo), mas admito, foi uma leitura que me deixou um pouco frustrada, mesmo tendo esperado tanto tempo para me debruçar em suas páginas - pois tive medo de ler no hype, ainda assim, esperei demais e não foi me entregue nem a metade.
Pequena Abelha começa, de fato, de uma forma fascinante: misteriosa, cruel, intrigante, mas isso vai se perdendo e algumas coisas inverossímeis e sem explicação vão tirando um pouco do brilho do impacto inicial.
Ok. Vamos por partes: em Pequena Abelha, vamos mergulhar na história de três personagens: Sarah, uma jornalista britânica, seu marido Andrew e Pequena Abelha, uma jovem nigeriana refugiada.
A narrativa vai alternar entre as perspectivas de Pequena Abelha e Sarah, relatando como tiveram suas vidas vinculadas de forma peculiar e profunda. Esse recurso narrativo me deixou a refletir se foi bem executado, pois em alguns momentos da história me desconectei emocionalmente de ambos os lados da história, porque nenhum me proporcionava uma perspectiva "palpável" e com detalhes do que estavam contando, assim sendo, trazendo uma perspectiva superficial e cheia de lacunas para que eu pudesse compreender algumas das principais motivações e desenvolvimento das personagens e, consequentemente, da história.
Pelo que já mencionei vocês percebem que vai tratar do tema de pessoas refugiadas, certo? Sim! Um tema super válido e que na época em que foi publicado talvez era pouco comum a abordagem, mas lendo o livro agora, já temos diversos livros que tratam da temática de forma tão impactante e até mais coerente.
Lógico que Chris Cleave aborda de maneira emocionante esse tema em Pequena Abelha e não só o tema de refugiado, imigração ilegal, mas também temática que envolve identidade, trauma e responsabilidade global, bem como direitos humanos, traição, luto e orfandade através da jornada das personagens protagonistas. O livro traz, sim, muitas cenas chocantes, angustiantes e pesadas de estupro, assassinato, suicídio e muito mais, de modo que é preciso cautela para o ler, mas tudo isso se perde um pouco na narrativa devido a trama cheia de fios soltos e a ausência de respostas, bem como acontecimentos incoerentes.
Uma dessas incoerências é a saída de Pequena Abelha do local onde estava reclusa por dois anos esperando ser legalizado sua entrada na Inglaterra, a explicação que teve foi vaga sem nenhuma força de convencimento, outro detalhe é a forma como ela conseguiu encontrar Sarah e Andrew, bem como todos os eventos que aconteceram depois, porque praticamente a Pequena Abelha foi acolhida sem documentos e numa casa onde tinha pessoas que não a queriam lá.
No meio tempo dessa história temos momento de ternura e singeleza, sem dúvida Cleave foi habilidoso na ideia, porém o desempenho precisava de mais trabalho. Há quem possa dizer que esse foi o propósito do autor: não querer ser didático, não apontar soluções e nem se deter a coerência do começo ao fim, mas tão somente mostrar um problema que merece ser pensado de alguma forma.
De modo geral Pequena Abelha foi uma leitura válida para mim, não foi perfeito, mas também não desgostei de todo. Foi Ok, mas devido a minha experiência, pode ser que certos aspectos - que já apontei aqui - tanto da história, quanto da narrativa não agradem a todos os leitores.
Inclusive essas partes mais "pesadas" da narrativa e que é bem descrita - tornando ainda mais doloridas - pode ser considerado excessivo e até forçado, com o intuído de chocar e atrair e manter o interesse do leitor, mas isso é uma estratégia válida, ainda mais porque sabemos que a realidade de pessoas refugiadas pode ser ainda mais cruel do que as narradas aqui.
Além disso, preciso elencar que há uma certa representação caricatural, estereotipada e simplista da cultura nigeriana e das experiências dos refugiados e isso é perceptível pela falta de profundidade (de pesquisa/vivência) na construção do enredo, narrativa e desenvolvimento da trama, permeando a história tem-se sobrevoando questões sociais complexas e a situação dos refugiados, mas a abordagem é fraca, vaga e impalpável.
Para finalizar, Pequena Abelha, pode não agradar a todos devido ao seu estilo narrativo melodramático, à superficialidade percebida de certos aspectos dos personagens e à potencial simplificação de questões sociais complexas. Mas quero ressaltar que, como em qualquer obra, as opiniões sobre o livro podem variar consideravelmente, e o que não ressoa bem para alguns leitores pode ser exatamente o que atrai outros, então minha opinião é que a leitura é válida se você tem interesse: vá em frente e tire suas próprias conclusões.
Até o próximo post!
FICHA TÉCNICA |
Título Original: The Other Hand Autor: Chris Cleave Tradutor: Maria Luiza Newlands Gênero: Ficção. Histórica. Drama. Editora: Intrínseca Ano: 2008/2010 | 272 págs. País de Origem: Inglaterra Classificação: +16 Aviso de Conteúdo: Estupro. Assassinato. Suicídio. Violência. Traição. Minha avaliação:⭐⭐⭐(3/5) |
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