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Resenha: Celular - Stephen King

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Celular, Stephen King, Rio de Janeiro: Suma, 2018, 384 pág.
Tradução: Fabiano Morais
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Saudações Leitores!
Celular (Cell, 2007) de Stephen King estava com a edição esgotada há algum tempo, mas, finalmente, foi reeditado no Brasil este ano de 2018. Inclusive sofreu uma adaptação cinematográfica em 2016, o filme contou com atores de peso como Samuel L. Jackson e John Cusack.

Este volume é um livro de ficção científica, mas é bem mais que isso: tem muita crítica social, tem muitas mortes, muito sangue, muita explosão e isso não deixa de ser assustador, mas não considero um livro de terror, como a maioria das obras de King são consideradas, na realidade, o autor, é bem versátil e consegue explorar vários "universos" literários: desde o dramático, ao terror e ficção científica.

Em Celular vamos acompanhar o artista gráfico Clayton Riddel (Clay), que é um pai de família e tem um filho ainda criança que mora no Maine com sua ex-esposa, o personagem está em Boston para assinar com uma editora que quer comprar sua HQ, quando às 15:30h o evento conhecido como O Pulso acontece.
"Mais tarde lhe ocorreu a ideia de que o corpo sabe lutar quando precisa; que aquela é uma informação que o corpo guarda, do mesmo jeito que o faz com as informações de como correr ou pular na água, dar uma trepada ou, muito possivelmente, morrer quando não há outra escolha. Que, sobre situações de extremo estresse, o corpo simplesmente assume o controle e faz o que precisa ser feito, enquanto o cérebro sai de cena, incapaz de fazer outra coisa a não ser gritar, bater o pé e olhar para o céu."
Clay está na fila de um caminhão de sorvete e percebe que a sua volta a maioria das pessoas estão mexendo ou falando no celular, ao contrário dele que nunca teve o aparelho, é quando, na hora citada, todos que estavam falando ao celular começaram a ter um comportamento estranho e terrivelmente agressivo: começaram a atacar uns aos outros, matar uns aos outros e é nesse ponto que o mundo começa a ruir e uma espécie de apocalipse acontece.
É em meio ao caos frenético: acidentes, assassinatos, agressões e muitos perigos que Clay conhece Tom. Tom convence Clay a saírem da rua e procurarem abrigo, antes que seja tarde demais. Eles vão para o hotel em que Clay estava hospedado. E é nesse ínterim que os personagens começam a refletir sobre a situação e percebem que o celular é o "culpado" por toda a alienação que está acontecendo.
"Algo ruim está acontecendo aqui, ele pensou. E os fonáticos são apenas o começo."
A narrativa prossegue com a trajetória de um mundo pós-apocalíptico em que Clay, Tom e outra personagem que encontram: Alice começam um percurso para o Maine, pois Clay quer procurar sua ex-esposa e, sobretudo, seu filho. É nesse percurso que os personagens acabam encontrando outras personagens, que várias situações terríveis e assustadoras acontecem e que eles começam a estudar o comportamento dos "fonáticos" (nome daqueles que sofreram a transformação com O Pulso do telefone celular".
Como já comentei, o livro é uma ficção-científica realmente boa, mas também é uma crítica social intensa, onde o autor nos mostra toda a alienação dos tempos modernos em que praticamente todas as pessoas usam celulares e o quanto essa tecnológica pode até ser boa, mas tem uma carga enorme de desvantagens, foi isso o que, perspicazmente, mostrou com o evento do pulso, onde um possível "virus" foi transmitido através do telefone.

Outro ponto que King levanta - que geralmente os livros com temas apocalípticos mostram - é um "estudo" sobre o comportamento humano, a dicotomia entre o bem e o mal e a natureza humana de lutar pela sobrevivência muitas vezes tendo que praticar atos violentos e terroristas. Em outra palavras, com a ruína da sociedade, é estabelecido uma nova "ordem" e os valores das pessoas tendem a mudar, ou seja, também, em colapso e os "humanos" deixam de ser tão virtuosos como costuma-se apregoar.
"Acho que, se quisermos passar pelo que, não importa o que seja, está por vir, é melhor darmos um jeito de conter nossas sensibilidades mais nobres. Acho que as pessoas que não conseguirem fazer isso... Acho que as pessoas que não conseguirem fazer isso podem morrer."
Realmente fiquei surpresa com o desfecho, eu sabia que a situação não era nada boa, mas não estava esperando o que aconteceu e isso foi ainda mais impactante. King sabe envolver seus leitores na narrativa a ponto de o tornarem absurdamente apegados com os personagens e sofrerem com todas as catástrofes que acontecem à eles. Em diversos momentos da leitura eu palavra para soltar palavrão, porque era inacreditável o que King estava fazendo, eu sempre ficava em choque a cada página lida e até a última frase do livros fez meu queixo cair.
"... o homem dominou o planeta graças a dois traços essenciais. Um é a inteligência. O outro é a completa disposição para matar tudo e todos que possam se colocar no seu caminho."
Apesar de não considerar Celular um livro de terror, ele também não o deixa de ser, pois é impossível não ficar assustado com os acontecimentos, com as reflexões propostas e toda a situação em si que "soa" como real, já que King utiliza o próprio cotidiano, o corriqueiro, para criar uma trama assustadoramente elaborada que deixa o leitor impactado. Só consigo recomendar esta leitura.

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