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Resenha: O Poder - Naomi Alderman

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

O Poder, Naomi Alderman, São Paulo: Planeta do Brasil, 2018, 368 pág.
Tradução: Rogério Galindo
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Saudações Leitores!
The Power (2016) no Brasil O Poder foi escrito pela inglesa Naomi Alderman, esta obra, inclusive foi ganhadora do Baileys Women's Prize For Fiction em 2017. Alderman escreveu outros livros como Disobedience (2006, que até virou filme), The Lessons (2010) e The Liar's Gospel (2012) ainda não publicados no Brasil.

Já faz quase um mês que li  O Poder, mas o volume foi tão impactante que ainda não tinha conseguido escrever a resenha. Tinha tanta coisa para processar, tantas ideias e sentimentos jorrando de mim que não sabia como transformar tudo isso em palavras. Espero conseguir expressar ao menos 1/3 do que senti ao lê-lo.
"Uma dúzia de mulheres se transformou em cem. Cem viraram mil. A polícia recuou. As mulheres gritaram; algumas fizeram cartazes. Elas entenderam a força que tinham, todas ao mesmo tempo."
De início já quero afirmar, categoricamente, que este foi o melhor livro que li em 2018 (até o momento) senão na minha vida! Não estou exagerando de modo algum e, quem já leu pode ratificar o que estou dizendo, sobre o quanto este livro é impactante, e quem não o leu, necessita ler.

O Poder  vai girar em torno de quatro personagem principais, isto é, os capítulos são alternados entre: Allie, uma adolescente norte-americana que vive em uma família adotiva onde é estuprada e violentada de inúmeras formas; Margot, a prefeita de uma cidade norte-americana que tem duas filhas e sempre tem seus projetos contrariados pelo governador do estado; Roxy, uma adolescente inglesa cuja família é composta por mafiosos e pessoas inescrupulosas; e Tunde, a única voz masculina do livro, que é um jovem jornalista nigeriano.
"Nada de especial aconteceu hoje; ninguém pode dizer que ela foi provocada mais do que o normal. É só que todo dia a gente cresce um pouco, todo dia tem alguma coisa diferente, e com o passar dos dias de repente algo que era impossível se torna possível. É assim que uma menina vira mulher."
A narrativa do livro se passa ao longo de dez anos onde acompanhamos como a sociedade vai mudando pouco a pouco, como vai surgindo uma nova conjuntura social onde o poder vai ser invertido entre homens e mulheres, como as novas relações de poder interferem na vida de todos e como tudo desencadeia numa nova forma de viver da humanidade.
Tudo se inicia quando algumas jovens garotas começam a desenvolver um estranho poder de criar correntes elétricas de várias intensidades apenas com com as mãos. Poder este, que é capaz de subjugar e matar outras pessoas se não for controlado. Pouco a pouco começam uma nova forma de lidar com este poder: os meninos são separados das meninas para que não sejam machucados. As meninas começam a despertar o poder nas mulheres mais velhas e a cada dia que passa o "sexo frágil" se torna mais e mais temido.

Logo, tudo o que está acontecendo são coisas inexplicadas e o inexplicável assusta a todos. Cientistas buscam, religiões e políticos buscam explicações e procuram por algo que possa igualar este poder. De repente, toda a sociedade muda e isso é assustador: ver o mundo que conheciam mudar tão drasticamente.
"Há movimentos estranhos acontecendo agora, não só no mundo, mas bem aqui, nos Estados Unidos. Dá para ver pela internet. Meninos se vestindo de meninas para parecer mais poderosos. Meninas se vestindo de meninos para se livrarem do peso do poder, ou para se tornar insuspeitas lobas em pele de cordeiro."
Com essa nova habilidade desenvolvida apenas pelas mulheres se estendendo para todos os lugares do mundo, os homens que sempre estiveram no poder, passam a ser subjugados e, em determinados lugares, as mulheres assumem o poder e os homens passam a ter medo de andar sozinhos, de serem violentados, torturados, mortos, etc. Detalhe: medos que nós, mulheres, sempre tivemos e passam a assustar a vida dos homens. Sim, os papeis se inverteram!
No começo da leitura de O Poder cheguei até a ponderar que um mundo em que as mulheres não fossem mais subjugadas poderia ser algo mais humano, contudo, com o desenrolar da narrativa e o passar dos anos no livro, isso vai se tornando perturbador, pois as mulheres passam a ser tão (ou mais) cruéis quanto os homens. Ou seja, Alderman, não nos poupa de cenas de estupros, mortes, torturas que os homens sofriam nesse universo distópico. É aterrorizante e tão cru que chega a dar náuseas. As mulheres desse universo estão com sede de vingança e, só querem os homens para reproduzir ou lhes dar prazer. Os homens sofrem repressão, são vigiados e devem sempre ter uma mulher por perto para que Elas tomem as decisões.
"Essas coisas estão acontecendo todas ao mesmo tempo. Essas coisas são a mesma coisa. São o resultado inevitável de tudo que aconteceu antes. O poder está em busca de uma saída. Essas coisas já aconteceram antes; vão acontecer de novo. Essas coisas acontecem o tempo todo."
O fato é que O Poder escancara para todos os homens todos os absurdos que eles praticavam contra as mulheres (e isso serve também para o leitor e para a nossa sociedade, não?), mas também temos uma grande crítica social que mostra que a construção de uma sociedade ideal independe do gênero, pois o que corrompe e o que destrói qualquer igualdade e justiça são as relações de poder, onde o poder, naturalmente, corrompe as pessoas. Em outras palavras: homens ou mulheres, quando detém "poder", acabam se  esquecendo de valores básicos e prevalecendo mais o egoísmo, a individualidade e a ambição.

No entanto, vale frisar que o livro tem um começo estranho e, até conseguirmos nos situar, é um pouco confuso, mas cada detalhe é de suma importância para toda a narrativa e para o plot twist super incrível e ao mesmo tempo assustador.
Sem dúvida alguma, O Poder, é um livro chocante, trágico, pessimista e bem desanimador, que contem, sim, boas doses de verdade. Basta que olhemos aos nosso redor para percebermos que, no fim das contas, o egoísmo, a ambição, a ânsia por ter e ser mais que os outros não tem nada a ver com gênero, classe social, opção sexual ou mesmo raça, parece-me ter muito mais a ver com a natureza do ser humano.

É inquestionável que tudo o que foi exposto nesta obra nos lança a uma dicotomia de valores enormes e que o medo e a violência apresentadas, nada mais é do que fruto de relações de poder que a mulher estando num escalonamento mais abaixo que os homens (fato que aconteceu por questões culturais e histórias que, aliás, devemos lutar para não serem perpetuadas) vem sofrendo diariamente dentro e/ou fora de casa. Ver os homens passando pelo mesmo no livro choca, mas por que parece que quando é a mulher passando por estas mesmas situações a sociedade passa a culpá-la e não vitimá-la?
"Para o poder, não importa quem o controla."
São tantos questionamentos que este livro proporciona com essa inversão de papeis sociais, as dicotomias de valores e as relações de poder que é enormemente difícil expor e tentar explicar tudo isso numa simples resenha. Provavelmente precisaria de uma tese ou uma monografia para conseguir chegar perto das discussões e reflexões que esse livro jogou na minha cara.

O Poder deveria ser leitura obrigatória.

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