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Resenha: O Diário de Myriam - Myriam Rawick

sexta-feira, 10 de maio de 2019

O Diário de Myriam, Myriam Rawick e Philippe Lobjois, 
Rio de Janeiro: Darkside Books, 2018, 288 pág.
Tradução: Maria Clara Carneiro
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Saudações Leitores!
O Diário de Myriam (Le Journal de Myriam, 2017) foi um livro que me chamou atenção de cara e logo que foi lançado no Brasil pela Darkside com seu selo Crânio, tive muita vontade de ler. Finalmente tive a oportunidade de me debruçar sobre suas páginas e... Céus! Que Leitura! Que Leitura! Foi um misto muito grande de sentimento e emoções.

Antes de falar especificamente sobre minha opinião acerca de O Diário de Myriam vale a pena ressaltar que o livro é baseado na história real de Myriam Rawick e que o conteúdo deste volume é um diário que a jovem escreveu e que foi publicado com o apoio do jornalista que a conheceu: Philippe Lobjois.
"No início, eu quis assistir com eles, mas não entendia muito bem o que a moça das notícias dizia. Tem aqueles que são a favor do presidente. Aqueles que são contra. Ele se enfrentam em todo o país. Mas a televisão síria diz que as pessoas contra o governo são muçulmanos perigosos pagos pela Arábia Saudita."
Myriam começou a escrever seu diário em junho de 2011, quando tinha seis anos e sua última entrada no diário é em março de 2017, já então, com 13 anos de idade. A menina Myriam começa a registrar em seu diário o inicio da revolução e da guerra na Síria, mas especificamente onde ela morava: em Alepo.
"Hoje a luz voltou. Felizmente, porque as bombas e os tiros no escuro dão ainda mais medo do que quando tem luz."
Por se tratar de um momento tão triste (uma guerra), O Diário de Myriam, torna-se uma leitura com potencial de emocionar e afligir o leitor, como eu sou meio sensível a assuntos assim, rolou algumas lágrimas durante minha leitura.
Não é que o diário seja tão dramático, mas por ter essa forma de diário a gente acaba se aproximando muito dos fatos narrados, provocando uma reflexão sobre os acontecimentos e as reais consequências de uma guerra. Faz-nos lembrar que existiram muitas Myriams que perderam a inocência, perderam a família e perderam a vida. Fiquei bastante comovida.
"Papai diz que o presidente americano e o presidente francês querem nos bombardear e guerrear contra a gente. Não entendo por que eles querem nos bombardear ainda mais."
Por ser um diário escrito por uma criança, O Diário de Myriam, é um livro relativamente leve, porque os eventos nefastos são retratados com o filtro da inocência de Myriam que escreve sobre coisas que não conhece, não entende, mas que está sendo obrigada a viver.

Doeu muito ler sobre todo o terror vivido por Myriam e em vários momentos de seus relatos e das datas dos mesmos eu me pegava pensando o que estava fazendo naquele dia; definitivamente não estava sofrendo, mas é tão angustiante saber que enquanto eu estava colecionando boas lembranças Myriam e muitas outras pessoas da Síria estavas encolhidas escondidas de um bombardeio.
"Papai ligou a televisão, eles diziam que estavam bombardeando Bustan al-Basha. Antes, achava que os aviões só serviam para viagens, para ir para longe, para levar as pessoas em visitas a países do mundo inteiro. Nunca tinha pensado que aquilo podia transportar bombas."
Sem dúvida, O Diário de Myriam, é uma leitura que acredito ser essencial, por nos aproximar de histórias assim, de nos fazer solidarizar e perceber que em outros lugares do mundo uma guerra está destruindo infâncias, casas, países, vidas. É muito fácil nos esquecermos disso quando não vivemos essa triste realidade, acabamos nos distanciando mesmo quando assistimos nos jornais, então, ler histórias reais e conhecer o que pessoas reais viveram e sentiram nos aproxima dessa realidade.
"Estou cansada porque não consigo dormir. Não paro de pensar nos pequenos corpos na praça. Rezo para que Deus os leve com Ele ao Paraíso."
Afinal, pessoas que vivem em lugares de confronto não perdem apenas uma casa ou tem um país destruído, essas pessoas também perdem quem amam, perdem a esperança, passam fome, vêem a morte, vivem sobre tensão e medo constantes. Há todo um psicológico e emocional que fica destruído.
"Alepo é uma cidade fantasma. Não tem mais ninguém. Às vezes, há senhoras de preto que correm do lado de fora, ou pessoas armadas. Mas só isso. Quando a gente abre as janelas, não tem um barulho de vida sequer. Não existem flores, não existem cores e até os pássaros já nos deixaram."
"Tenho treze anos. Cresci rápido, rápido demais. Sei reconhecer as armas, sei reconhecer as bombas. Sei quando é preciso se esconder e como se deve esconder. Mas, principalmente, sei o que é a morte. A perda de pessoas que se ama, e o medo de morrer. Eu me vi encurralada em um conflito sem nome, sem palavra para as crianças. Não o entendi. Falava-se de guerra civil, falava-se de bombardeios russos, de coalizão internacional. Para mim, era só medo, tristeza, angústia. E as lembranças de uma vida de antes que não recuperei nunca mais."

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