Saudações leitores!
Venham conferir comigo alguns dos principais lançamentos da Companhia das Letras e Letrinhas, espero que gostem...
COMPANHIA DAS LETRINHAS
As improváveis aventuras de Mabel Jones (Mabel Jones,
vol, 1), de Will Mabbitt
Sequestrada, Mabel Jones é forçada a servir a tripulação mais estranha
já vista, a bordo do navio Verme Selvagem. Idryss Ebenezer Split é um lobo
odioso e capitão do navio, e não vai deixá-la em paz até que ela ajude os
piratas na busca por um tesouro.
Em sua viagem, Mabel passa pelo Pau de Sebo da Morte Certeira, pela
barriga de uma baleia e por uma cripta subterrânea caindo aos pedaços. E ela
faz tudo isso… de pijama!
COMPANHIA DAS LETRAS
Tá todo mundo mal, de Jout Jout
Do alto de seus 25 anos, Julia Tolezano, mais conhecida como Jout
Jout, já passou por todo tipo de crise. De achar que seus peitos eram pequenos
demais a não saber que carreira seguir. Em Tá
todo mundo mal, ela reuniu as suas “melhores” angústias em textos tão
divertidos e inspirados quanto os vídeos de seu canal no YouTube, “Jout Jout, Prazer”.
Família, aparência, inseguranças, relacionamentos amorosos, trabalho, onde
morar e o que fazer com os sushis que sobraram no prato são algumas das
questões que ela levanta. Além de nos identificarmos, Jout Jout sabe como nos
fazer sentir melhor, pois nada como ouvir sobre crises alheias para aliviar as
nossas próprias!
Cidade em chamas, de Garth Risk Hallberg
Nova York, 1976. O sonho hippie acabou, e dos escombros surge uma nova
cultura urbana. Saem as mensagens de paz e amor e as camisetas tingidas, entram
as guitarras desafinadas, os acordes raivosos e os coturnos caindo aos pedaços.
Por toda a cidade brotam galerias de arte e casas de show esfumaçadas. É nesse
cenário que Garth Risk Hallberg situa esta obra colossal, aclamada pela crítica
como uma das grandes estreias literárias de nosso tempo. Regan e William são
irmãos e herdeiros de uma grande fortuna. Ela, uma legítima Hamilton-Sweeney e
eternamente preocupada com o futuro da família, vê seu casamento desmoronar em
meio às infidelidades do marido. Ele, a ovelha negra, fundador de uma
mitológica banda punk, artista plástico recluso e figura lendária das artes
nova-iorquinas. Ao redor dos dois gira uma constelação de tipos e acasos. A
jovem fotógrafa que descobre um influente movimento musical pelas ruas da
cidade. O jovem professor negro e gay que chega do interior e se apaixona pelo
misterioso artista. O grupo de ativistas que pode ou não estar levando longe
demais o sonho de derrubar o establishment. O garoto careta e asmático que se
apaixona pela punk indomável. O repórter que sonha ser o novo nome do
jornalismo literário americano. E, em meio a tudo isso, um crime que vai cruzar
suas vidas de forma imprevisível e irremediável.
Combinando o ritmo de um thriller ao escopo dos grandes épicos da
literatura, Garth Risk Hallberg constrói um meticuloso retrato de uma metrópole
em transformação. Dos altos salões do poder às ruelas do subúrbio, ele captura
a explosão social e artística que definiu uma década e transformou o mundo para
sempre. Cidade em chamas é um romance
inesquecível sobre amor, traição e perdão, sobre arte e punk rock. Sobre
pessoas que precisam umas das outras para sobreviver. E sobre o que faz a vida
valer a pena.
“Tenho de agradecer-te, pai, o
modo como sorrias quando eu chegava a casa e te abraçava, confuso pela tua
presença breve, delicada, como uma brisa. Se um dia vier a acreditar em Deus,
não quero relâmpagos e trovões, quero um sorriso delicado como aquele que
aparecia no teu rosto.”
Flores começa com uma perda,
a perda do pai. E é a partir daí que o narrador, um jornalista que vive com a
filha e a mulher numa relação cheia de incômodos, passa a notar seus vizinhos e
a conviver com o senhor Ulme.
Ulme sofre além da conta com as notícias que lê nos jornais e com
todas as tragédias humanas às quais assiste. Certo dia percebe não se lembrar
de seu primeiro beijo, dos jogos de bola nas ruas da aldeia ou de já ter visto
uma mulher nua. Seu vizinho, talvez por ainda recordar bem do encanto do
primeiro beijo - e constatar o quanto a sua vida se distanciava dele -, decide
ajudar o senhor a escrever sua história e a recuperar as lembranças perdidas.
Ele visita a aldeia alentejana esquecida no tempo e vai aos poucos remontando a
identidade de Manuel Ulme, homem que, pelos relatos, parece ter oscilado entre
um bom samaritano e um perverso entregue aos prazeres da paixão.
O contraste fica cada vez mais claro: enquanto um homem não tem
passado e não se lembra do amor, o outro sofre com o presente e com a
consciência da rotina que a cada dia destrói sua relação, quando um beijo já
perdeu todo o encanto e se tornou tão banal quanto arrumar a cama.
Construído em capítulos curtos e com uma voz originalíssima, o romance
de Afonso Cruz comove ao falar da memória, do que é o amor e das tragédias que
acabam por virar banalidades.
Morte súbita, de Álvaro Enrigue
Caravaggio e Quevedo se enfrentando numa partida de pallacorda é mesmo uma senhora fantasia.
Se a Europa seiscentista é como uma grande quadra onde se confrontam a Reforma
Protestante e a Contrarreforma Católica, o pintor italiano e o poeta espanhol
também encarnam o embate entre duas maneiras de viver e de fazer arte:
Caravaggio, o artista apesar das circunstâncias, com sua sexualidade fluida,
flertando com a marginália e o crime, reinventor da pintura para além de seus
limites; Quevedo, o nobre cioso de sua honra, abraçado à mais reacionária e
hipócrita moral católica que logo envolverá o mundo em censura e fogueiras,
mestre genial dos sonetos, da homofobia e do antissemitismo.
Tendo como eixo esse conflito, Enrigue expande seu jogo em várias
direções, farejando rastros de sangue, sêmen e ouro. Com a liberdade dos
melhores romances, o autor segue atalhos que nos levam a tempos passados e
futuros, ora cruzando o Atlântico, ora transitando dentro dos reinos europeus
num bate e rebate estonteante. Os lances de Caravaggio abrem caminho a um
desfile que inclui um curioso Galileu Galilei, um finório Pio IV e um são
Carlos Borromeu tão fanático quanto obtuso, a par de banqueiros, prostitutas e
mendigos, todos às voltas com pequenas intrigas paroquiais e grandes
negociações que marcarão o destino do mundo. Os golpes de Quevedo carregam a
decadente corte espanhola de Filipe III e dos duques de Osuna, e por meio da
duquesa, neta de Hernán Cortés, nos levam ao México arrasado pelo conquistador
de braço dado com uma surpreendente Malinche muito dona do seu nariz; ao
martírio do imperador Moctezuma e de seu grande general Cuauhtémoc. E daí, ao
princípio de nação construída sobre as ruínas astecas, abrigo das utópicas
experiências de um padre que leu a Utopia
de Thomas Morus ao pé da letra, amigo e protetor de um gênio da arte plumária
indígena, grande apreciador de cogumelos alucinógenos que espalhou suas
obras-primas pela Europa e encheu os olhos de quem as soube olhar.
Mas engana-se quem vir em Morte súbita
um romance histórico. Ele é muito mais do que isso: uma obra em que o passado
factual é pretexto para especular sobre grandes questões dolorosamente
presentes.