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Resenha: Garota em Pedaços - Kathleen Glasgow

domingo, 11 de junho de 2017

Garota em Pedaços, Kathleen Glasgow, São Paulo: Planeta, 2017, 383 pág.
Tradução: Regiane Winarski

Saudações Leitores!
Girl in Pieces (2016) escrito por Kathleen Glasgow não é um livro fácil, traz um conteúdo pesado, forte, doloroso e cru. A escritora não poupou seus leitores, ela fez com que entrássemos dentro da personagem e sentíssemos o que Charlotte (Charlie) sentia.

A narrativa acontece em primeira pessoa, portanto, vamos acompanhar Charlie que está numa Clínica Psiquiátrica, pois tentou cometer suicídio, no entanto, a personagem é um calabouço de problemas e a tentativa de suicídio foi só a consequência do que vários fatores somados: solidão, depressão, automutilação e sentimento de culpa e inferioridade. Definitivamente Charlie estava no fundo do poço para não encontrar outra saída. Para somar com todos os seus problemas: ela vivia na rua, estava sempre alcoolizada, sofreu uma tentativa de estupro, seu pai se suicidou e sua melhor amiga tentou suicídio e está em estado vegetativo.
"Eu me corto porque não consigo lidar com as coisas. É simples assim. O mundo se torna um oceano, o oceano cai em cima de mim, o som da água é ensurdecedor, a água afoga meu coração, meu pânico fica do tamanho do mundo pode me machucar. Só assim posso me reconfortar." (p.46)
Por tudo isso e por mais outros fatores a vida de Charlie era bastante difícil e embora ela não quisesse de fato morrer ela não via outra saída. Na Clínica Psiquiátrica ela vê um possível novo começo, mas tudo parece ruir quando ela tem que sair da Clínica porque não há mais ninguém pagando pelo seu tratamento.

Sozinha, Charlie se muda para a casa de um amigo - por quem foi apaixonada - em outro estado e lá tenta reconstruir sua vida, mas não é tão simples: Charlie traz muitas cicatrizes externas (devido as automutilações) e internas. Para piorar ela conhece um cara que simplesmente se relaciona com ela e a leva para mais baixo. Charlie tenta não recorrer ao seu kit de amor (kit de automutilação), mas as coisas são muito difíceis. Tem uma vida miserável.
"Você pode beber, se arranhar, usar metanfetamina, cheirar cocaína, se queimar, se cortar, se furar, se ralar, arrancar os cílios ou trepar até sangrar. Tudo é a mesma coisa: automutilação. Ela diz que quando alguém nos machuca ou nos faz sentir mal ou indigna ou imunda, em vez de dar o passo racional de aceitar que a pessoa é babaca ou maluca e que deve levar um tiro ou ser enforcada e que devemos ficar longe pra caralho dela, nós internalizamos a agressão e começamos a culpar e punir a nós mesmas." (p.36)
Fazia muito tempo que não lia um livro que me emocionasse tanto como Garota em Pedaços, fazia tempo que eu não chorava lendo um livro e isso tudo aconteceu durante essa leitura. Eu ficava lendo e querendo mudar aquela situação: queria segurar nas mãos de Charlie e dizer que iria ajudá-la, que ela não fosse por tal caminho que ela ficasse forte, foi doloroso ler isso e ao mesmo tempo gratificante: é sempre bom conhecermos um pouco de problemas que a maioria das pessoas consideram "frescura", mas que são tão graves como o câncer e a AIDS, porque se não tratado é algo que cresce, e cresce, e cresce e pode levar a morte.
Ok, vocês podem dizer que Garota em Pedaços é apenas ficção, eu sei que é, no entanto, houve uma vasta pesquisa sobre o assunto por parte da autora e outro fator é que a própria Kathleen Glasgow também se automutilava, portanto ela tem propriedade para escrever sobre o assunto, não é mesmo? Exato, portanto, enquanto estava lendo uma ficção tinha certeza que essa poderia ser uma história real. Há milhares de pessoas pelo mundo que passam por esse transtorno psicológico e pedem por ajuda. Só temos que aprender a escutar esse grito, muitas vezes, silencioso. 

Outro ponto que quero falar sobre Garota em Pedaços é que, apesar de seu um tema pesado, o livro é viciante e por trazer capítulos curtos, acabamos lendo muito mais rápido as mais de 350 páginas.
"Acho que você está tendo um tipo diferente de coração partido. Talvez coração partido por estar no mundo quando não sabe como estar nele.
Todo mundo tem esse momento, eu acho, o momento em que uma coisa tão... crucial acontece e que parte seu ser em pedacinhos. E aí, você tem que parar. Por um tempo, para recolher os pedaços. E demora tanto, não para juntá-los novamente, mas para montá-los de um jeito novo. Não necessariamente melhor, mas de um jeito com o qual você possa viver até ter certeza de que essa peça devia ficar ali e aquela outra aqui. Estou tão partida. Não sei onde todas as peças de mim estão, nem como montá-las, nem como fazê-las grudarem. Nem se consigo." (p.339)
Às vezes costumo dizer que existem livros que merecem ser lidos (por seu conteúdo, ou pela qualidade da história), mas agora quero acrescentar algo mais nessa minha frase: Há livros que precisam ser lidos e Garota em Pedaços é um desses, pois traz um ensinamento e nos torna pessoas que querem ser melhores. Sermos melhores deveria ser nosso objetivo de vida.
"Há livros que MERECEM ser lidos e há livros que PRECISAM SER LIDOS" (Mila F)


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