Recomendo O Livro do Conforto, com a ressalva de que o leitor reconheça e respeite seus próprios limites emocionais
Saudações, Leitores!
Hoje trago minhas impressões sobre um livro que se propõe a ser um abraço em forma de palavras: O Livro do Conforto (The Comfort Book, 2021), do autor britânico Matt Haig, que também é jornalista e ativista conhecido por abordar temas de saúde mental, especialmente a depressão, ansiedade e ideação suicida de uma maneira acessível e pessoal.
Já tive o prazer de ler outros livro do autor como o aclamado (e divisor de opiniões) A Biblioteca da Meia-Noite e Um Menino Chamado Natal (que tem até filme!), os seus livros costumam abordar temas bastante sensíveis e tocam os leitores de forma particular justamente por abordar a fragilidade humana e cada pessoa vai se envolver em maior ou menor grau a depender de sua bagagem ou de quão vulnerável está emocionalmente. Além dos títulos que já citei, Haig escreveu também Razões para Continuar Vivo e o romance How to Stop Time (tradução livre Como Parar o Tempo, procurei na web, mas acho que esse ainda não foi publicado no BR).
O Livro do Conforto não é uma narrativa tradicional, não se trata de um romance, mas um coletânea de pequenos textos, ensaios, listas, pensamentos e aforismos que o autor reuniu ao longo de sua vida para se utilizar dessas palavras e pensamentos como âncoras e se manter firme em momentos de escuridão. O livro, podemos dizer é o resultado de suas notas de sobrevivência quando o mundo parecia desmoronar, a forma racional como ele lidava com seu emocional em turbilhão e entrando em colapso.
As principais temáticas que perpassam o livro são a busca por significados em meio ao caos, a beleza que é possível ser percebida nas imperfeições, aceitar a dor como uma parte inevitável da vida e a importância de encontrarmos pequenas alegrias e perspectivas que nos ajudem a seguir em frente.
O estilo de narrativa que encontramos em O Livro do Conforto me parece muito parecido com os de autoajuda, pois os textos são construídos a partir das leituras pessoais do autor, da filosofia, ciência e de forma crucial de sua própria experiência enfrentando e conseguindo sobreviver à depressão e a ansiedade. É a forma pessoal com que ele lidou com esse problema e no livro vemos analogias, fatos históricos e lições do cotidiano para construir uma rede de pensamentos que visam acalmar a mente e o espírito e, para alguns leitores, pode servir e pode fazer a diferença.
No entanto, aqui vale frisar, como o próprio autor faz, que Matt Haig não é psicólogo, psiquiatra ou representante de qualquer credo, ou seja, este livro não substitui o tratamento profissional, mas se apresenta como um companheiro gentil, um amigo que entende a dor e oferece sua perspectiva.
De maneira geral, gostei da leitura, pois ela, de fato, me fez refletir sobre diversas questões e não houve nada no livro que eu tenha discordado, pois a proposta de Haig de desmistificar a felicidade constante e validar a dor é muito valiosa. Ele nos lembra que não precisamos ser perfeitos para merecer a vida e que a a escuridão é um estágio e não um destino final.
Entretanto, devo ser honesta, mesmo com toda a intenção de confortar, alguns pontos se tornaram gatilhos emocionais para mim. A abordagem crua e direta da experiência de dor, embora sincera e válida, pode ser muito intensa. Talvez isso tenha sido um gatilho para mim, porque, no momento da leitura, eu estava emocionalmente fragilizada por tantas coisas, que eu lia os textos e interpretava de uma forma que talvez não fosse bem o caminho proposto pelo autor. A profundidade dos textos às vezes machucava e como observei o título, fui em busca de conforto.
Essa minha experiência em alguns dos textos não desmerece o livro. A sensibilidade é uma via de mão dupla: se a escrita de Haig toca fundo na emoção, ela também encontra a vulnerabilidade do leitor. Para quem busca uma voz que compreende e valida a experiência de estar no fundo do poço, esta obra é, sem dúvida, um farol. Para outros, como foi meu caso, pode ser necessário ler em pequenas doses, respeitando o próprio tempo.
Por fim, recomendo O Livro do Conforto, com a ressalva de que o leitor reconheça e respeite seus próprios limites emocionais ao embarcar nesta jornada de cura e aceitação - por exemplo apesar de ser uma livro que facilmente daria para ler em 1 ou 2 dias, eu me respeitei o suficiente e o li em quase um mês.
| FICHA TÉCNICA |
| Título Original: The Comfort Book Autor: Matt Haig Tradutor: Lívia de Almeida Gênero: Autoajuda. Editora: Intrínseca Ano: 2021 | 256 págs. País de Origem: Inglaterra Classificação: +15 Aviso de Conteúdo: Pensamentos suicidas. Ansiedade. Depressão. Minha avaliação:⭐⭐⭐⭐(4/5) |

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