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Resenha: Nunca houve um castelo - Martha Batalha

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Nunca houve um castelo, Martha Batalha, São Paulo: Companhia das Letras, 2018, 248 pág.
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Saudações Leitores!
Nunca Houve um Castelo (2018) é o lançamento de Martha Batalha, escritora de Recife que também escreveu A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, livro que sempre estou comentando e indicando aqui, no blog, e no canal do YouTube.

Confesso que estava com as expectativas muito altas em relação a Nunca Houve um Castelo, pois tinha amado o estilo de narrativa de Martha Batalha em A Vida Invisível de Eurídice Gusmão e estava ansiosa por conferir o novo trabalho dela.
Fui recompensada nas expectativas e ao mesmo tempo frustrada, não sei como explicar bem, vejamos: aqui vamos acompanhar a história de várias gerações de uma mesma família. Johan Jansson e sua esposa atravessam o oceano e vem morar no Brasil, ele se torna o cônsul da Suécia no Brasil em 1904, logo construíram um castelo na Praia de Ipanema e ali tiveram filhos que tiveram filhos que tiveram filhos.... Enfim acompanhamos os descendentes dessa família.
"Brigitta chorou um pouquinho, era uma vida inteira que deixava para trás. Depois secou as lágrimas e foi até a proa olhar o mar. Era uma vida inteira que tinha pela frente."
O fato é que acompanhar a família nem chega a ser o tão mais emocionante no livro, mas sim a evolução do passar dos tempos, as referências históricas, culturais, o advento de novas tecnologias, a constituição de novos modelos de família, assuntos tabus como homossexualismo, separação e traição vindo à tona. Esses detalhes, pelo menos para mim, foi o que mais me encantou na estória.

Fica evidente a grande pesquisa bibliográfica de Martha Batalha em todos os aspectos para tornar a narrativa coerente e verossímil ao contexto e ao tempo narrado.
Quando digo que acompanhar os elementos históricos foi a parte que mais me agradou, não quero dizer que não tenha gostado de acompanhar os passos da família retratada, até porque gostei, foi a partir deles que a escritora desenvolveu todo o trabalho da narrativa, todo o retrato da sociedade do Rio daqueles remotos anos, além de nos fazer refletir sobre aspectos como memória, conflitos e tudo o que é necessário para seguir com a vida.
"E tudo ficou bem por aqueles breves tempos. Os verões chegavam, os verões partiam, e mais moradores apareceram em Ipanema. Surgiram praça, igreja, mercearia, vendedores de porta em porta, e mesmo uma fila para conferir o resultado do jogo do bicho com o cambista da esquina. Até as tempestades de vento sudoeste pareciam perfeitas. Serviam para dar saudades do antes e ansiar pelo depois."
Acompanhar essa família foi incrível, pois vemos como país, filhos, netos, noras e amigos vão conduzindo suas vidas e o quanto a inevitabilidade do passar do tempo vão modificando não apenas as pessoas mas a própria cidade do Rio.
Nunca houve um castelo retrata bem o quanto o tempo foi transformando a cidade do Rio de Janeiro e seus moradores, o quanto esse passar do tempo foi tornando histórias, lendas, mitos até ninguém mais falar sobre elas, e ninguém saber como a história começou. O quanto o Brasil mudou e, inclusive, partes em que a posição e o papel das mulheres na sociedade começam a ser mudados com o advento do principio das ideias feministas no país.
"Para que se casar? Gostava de ser muitas mulheres, desde que nenhuma fosse a mulher de alguém."
Por fim, não me decepcionei com Nunca Houve um Castelo, a narrativa de Martha segue incrível e instigante, fazendo-nos refletir não apenas sobre a estória contada, mas faz uma reflexão profunda sobre o passar do tempo e o quanto, por mais que tentemos fazer as melhores escolhas sempre iremos carregar muitos arrependimentos, além de mostrar que o tempo passa não só para cada pessoas que vai envelhecendo, mas o exterior: prédios, tecnologias, tudo vai mudando tão rápido e se tornando tão obsoletos tão rápidos.
Martha Batalha segue também com suas ironias, e humor sarcástico em alguns momentos, proporcionando uma crítica à sociedade daquele tempo e, obviamente, à nossa sociedade, pois, por mais que muitas coisas tenham mudado, parece-me que alguns vícios e costumes deploráveis persistem com os séculos.

Será que é sonhar muito, desejar que logo em breve a escritora nos presenteie com um novo livro? Fico na ansiedade e na curiosidade sobre o que ela poderá retratar.
"Fechou os olhos e sorriu dolorido. Tudo tinha mudado de modo tão rápido e tão lento que se tornava impossível perceber. E por que a vida tinha que ser assim, feita com uma época em que todos viviam, e outra época em que todos morriam?" 

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