Adeus, Gana é basicamente uma trama de família, uma família partida que terá que se reunir em decorrência da morte do patriarca e, assim, deparar-se com tudo o que acarretou a separação. Um romance emocionante, mas que por ser muito fragmentado pode dificultar um pouco a leitura.
Saudações Leitores!
Sempre fui muito de me dar oportunidade de ler livros diversificados e que trazem culturas diferentes, então quando vi a divulgação de publicação de Adeus, Gana (Ghana Must Go, 2013) escrito por Taiye Selasi – que também é cineasta, fotógrafa e roteirista –, filha de mãe nigeriana e pai ganense, a escritora nasceu em Londres e cresceu em Boston fiquei bastante curiosa com a sinopse e não pensei duas vezes em ler.
Vale ressaltar que Adeus, Gana é o primeiro romance da autora e mesmo tendo sido publicado em 2013 teve sua primeira publicação brasileira recentemente.
Logo no início da narrativa de Adeus, Gana me vi atordoada com as informações sendo lançadas e não estava entendendo muita coisa, então já fiquei com um pé atrás, mas aos pouco, através de uma narrativa bastante fragmentada, a autora Taiye Selasi vai nos localizando na história e fazendo conexões com tudo o que foi dito ou ainda com o que iremos desvendar nas páginas subsequentes."Nenhum médico tão experiente, muito menos tão excepcional - e podem dizer o que quiserem, mas o homem era bom no seu trabalho, até os depreciadores admitiam, "um artista com um bisturi", um cirurgião geral sem igual, o Carson ganense e por aí vai -, poderia ter ignorado os sintomas de um infarto se aproximando tão lentamente. Trombose coronária básica. Facinho. É só agir rápido. E teria havido tempo, meia hora no mínimo [...]"
Adeus, Gana conta a história de uma família de origem africana radicada nos Estados Unidos e tem como ponto de partida a morte do patriarca: Kweku Sai, um renomado cirurgião ganense. A partir desse fato vamos acompanhar os desdobramentos e as implicações psicológicas e emocionais que essa morte vai causar em todos os membros da família – uma família, diga-se de passagem, quebrada, despedaçada, cheia de silêncios e não ditos que acabou se espalhando pelo mundo, de modo que seus integrantes tem pouco ou quase nenhum contato uns com os outros.
Taiye Selasi elaborou uma estratégia interessante para seu livro dividindo-o em três partes: Partido, Partida e Partir. Partes essas que, em retrospecto, fazem todo o sentido para a condução do elo e da tecitura narrativa.
"[...] aprende que "perda" é um conceito. Nada mais que um pensamento, que alguém forma ou não forma. Com palavras. De modo que alguém não pode perder, nem sequer dizer que perdeu, o que não permite existir em sua mente."O fato é que paulatinamente vamos acompanhando os desdobramentos que essa morte traz para os membros da família, ao passo que também vamos juntando as peças do quebra-cabeça da vida de Kweku Sai. Todos os integrantes da família que estão espalhados por várias partes do mundo acabam se deparando com reflexões a cerca de suas dores e cicatrizes, muitas decorrentes do abandono de Kweku. É quando a família Sai se reencontra novamente debaixo do mesmo teto para velarem o corpo de Kweku e entenderem os motivos de serem quem são e até mesmo se reconectarem e perdoarem uns aos outros, inclusive o morto.
Além de fazer um mergulho profundo nas relações familiares envolvendo situações de amor e abandono, além das conexões patriarcais, Taiye Selasi trabalha em Adeus, Gana com outras temáticas interessantes como a vida de imigrantes na américa, bem como a de seus filhos em um país que despreza sua origem e sofrem também com diversos preconceitos incluindo o racismo. Brilha nas entrelinhas do volume o sentimento de não pertencimento, onde o descendentes de africanos, mesmo sendo americanos são vistos de forma inferior como se tivessem que voltar para seus lugares: mas que lugar seria esse?
"Como ele poderia saber? Que uma vida que demoraram anos para ser construída levaria semanas para se partir? Uma vida inteira, um mundo inteiro, um mundo inteiro que eles construíram juntos: jantares, pratos, fraldas, realizações, diplomas, acordos tácitos, mensagens deixadas na secretária eletrônica."Adeus, Gana foi, para mim, uma leitura bem desafiadora, porque as temáticas abordadas são pesadas, a forma fragmentada também não é uma das narrativas mais fáceis e a própria escrita de Taiye Selasi por ser bastante descritiva e com poucos diálogos fazem com que o volume seja realmente desafiador e impactante ao mesmo tempo.
Para finalizar, acredito que se você chegou até aqui é porque tem interesse em ler e espero que mergulhe nessas páginas, no entanto, quero deixá-los de sobreaviso de que este livro traz gatilhos de estupro, abandono, relações incestuosas entre outros. No mais, até o próximo post e boas leituras!
"Você vive sua vida inteira neste mundo, nestes mundos, e sabe o que eles pensam de você, sabe o que eles veem. Você diz que é africano e quer se desculpar, explicar, mas eu sou inteligente. Não há nenhum valor implícito. Você sente isso. Diz "China, China antiga, Índia antiga" e todo mundo pensa: Ah, a antiga sabedoria do Oriente. Você diz "África antiga", e todo mundo pensa irrelevante. Empoeirada e irrelevante. Perdido. Ninguém dá a mínima. Você quer que eles te vejam como algo de valor, não empoeirado, não irrelevante, não atrasado, sabe? Deseja não dar a mínima, mas por algum motivo dá [...]. Você teme o que eles pensam, mas não dizem. Então, um dia, alguém o diz em voz alta."
Adeus, Gana (Ghana Must Go, 2013)
Autor: Taiye Selasi
Tradução: Isadora Prospero
São Paulo: TusQuets / Planeta
Ano: 2021 | 352 págs
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