Primeiro eu tive que Morrer é melancólico, é sutil, envolvente e reflexivo.
Saudações Leitores!
Lembro que estava vendo um vídeo da Ju Cirqueira no Youtube quando ela falou que estava lendo esse livro e que a história se passava em Jericoacoara (que fica bem pertinho de onde moro, pouco mais de 60km), então fiquei com a curiosidade atiçada e comprei o e-book imediatamente para mergulhar na leitura.
Primeiro eu tive que Morrer é fruto do trabalho da escritora e jornalista cearense Lorena Portela e primeiramente foi publicado de forma autônoma em 2020 e em 2022 foi publicado pela Editora Planeta.
É extremamente incrível ver sua região/lugar/cidade sendo representada (existindo também) em um livro e, é claro que temos alguns livros que se passam no Ceará, mas um livro que se passa no CE e na região específica em que moro, nunca tinha visto, então esse livro já carrega essa carga emocional de identificação para mim, sem contar que menciona cidades próximas, e costumes reais da região de Jericoacoara, como o hábito de aplaudir o pôr-do-sol, a duna do pôr-do-sol, etc.
Entretanto, vamos ao livro: em Primeiro eu tive que Morrer a narrativa é em primeira pessoa e se passa - como já mencionei - em Jericoacoara, contando a história da protagonista que não sabemos o nome (daí ela pode ser qualquer pessoa e essa estratégia pode fazer com que cada leitor consiga se identificar um pouco com a protagonista não nomeada), sabemos apenas que é uma mulher de 30 anos, bem sucedida, publicitária, está exausta e à beira de um colapso mental pela sobrecarga de trabalho e falta de férias.
Desse modo, percebemos que a narradora se entregou de corpo e alma ao trabalho e está à beira de um Burnout, então, percebendo suas forças e sanidade se esvaindo, decide tirar 2 meses de férias para descansar, se reconectar com ela mesma e voltar a ser mais produtiva e criativa, pois o esgotamento tinha lhe roubado isso.
Como a personagem mora em Fortaleza e já conhecia Jericoacoara (Jeri), decide passar suas férias nesse lugar paradisíaco e relaxar, além do mais, como já tinha ido para esta vila, tinha conhecidos lá e isso facilitaria sua estadia de 2 meses nesse paraíso cearense.
Lá em Jeri, a publicitária se hospeda na pousada de um casal de amigas e combina de se encontrar, na vila, com Glória, uma amiga com quem tem um crush. Portanto, já temos aqui um romance sáfico e esse romance é trabalhado de forma natural e sem focar no relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, não tem como objetivo focar na jornada de identidade e descoberta da personagem, de modo que não temos grandes dramas em decorrência do romance sáfico, somente as questões presentes em qualquer tipo de relacionamento.
O foco total de Primeiro eu tive que Morrer são os problemas psicológicos e de esgotamento da protagonista, dito de outra maneira o foco é a relação da publicitária com ela mesma: as escolhas que fez, faz ou deve fazer para "sobreviver" tendo que deixar "morrer" muitas partes suas para se libertar, ou seja, temos essa morte como uma morte psicológica e não real, onde a personagem tem que permitir que muitas partes suas morram para que possa viver mais plenamente.
Primeiro eu tive que Morrer traz várias abordagens sobre trabalho e felicidade, sobre muitas vezes as mulheres trabalharem bem mais que os homens e ganharem menos e, em muitos casos, os homens levarem o crédito pelos esforços do trabalho de uma mulher, além do peso do trabalho em si - mesmo quando se ama o que faz - a frustração pelo não reconhecimento e a desvalorização da profissional leva a um esgotamento, uma frustração e desmotivação, ocasionando, consequentemente, problemas psicológicos terríveis.
Primeiro eu tive que Morrer tem um fluidez impressionante e envolvente, é difícil conseguir parar de ler após iniciar. O volume, de certo modo, também traz uma calmaria, uma rotina simples e a vontade de reconectar com o essencial. Abandonar o caos urbano, o furor capitalista. A narrativa é simples e até poética, sem contar que o livro é curto o que nos faz ansiar para saber qual será o desfecho, afinal há cenas que nos deixa com a pulga atrás da orelhas e queremos saber o que realmente está acontecendo com a protagonista que pode ou não ser confiável dado ao nível de estresse que estava sofrendo antes de entrar de férias.
Em resumo, gostei bastante de Primeiro eu tive que Morrer embora, de certo modo, o livro venha impregnado por uma melancolia, temas sensíveis, contudo, a abordagem acontece de maneira responsável, ademais senti que a pretensão da história não é responder perguntas e nem deixar lições de moral, mas de propor reflexão sobre os temas e de nos fazer perceber que vezenquando precisamos desacelerar e rever nossos projetos, às vezes, até mudar de rumo. Achei o volume fascinante, irei ficar de olho na autora para acompanhar seus escritos.
Espero que tenham gostado, até o próximo post!
FICHA TÉCNICA |
Título Original: Primeiro eu tive que Morrer Autor: Lorena Portela Gênero: Ficção. Romance sáfico. Editora: Planeta Ano: 2022 | 140 págs. País de Origem: Brasil Minha avaliação:⭐⭐⭐(3/5) |
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