O Rio que Me Corta por Dentro me roubou as palavras... é só sentimento
Saudações, Leitores!
Como começar a falar de O Rio que Me Corta por Dentro, do cearense, Raul Damasceno, meu conterrâneo de Estado e natural de uma cidade que amo demais e que fica aqui "pertinho": a serra primorosa de Ubajara? É uma tarefa ainda mais árdua quando penso que ao terminar o volume eu simplesmente fiquei sem palavras e só imersa em sentimentos. Mas eu vou tentar ser coerente e colocar aqui minha honesta opinião sobre o livro.
Sei que o livro se tornou bastante popular atualmente pela indicação de um influenciador literário, mas quem primeiro o indicou para mim foi uma amiga, Ana Neuma que conhece o escritor e que inclusive é um dos nomes que aparecem nos agradecimentos do livro, na época que ela falou o livro ainda era publicado apenas em ebook e, gostei da sinopse, mas o tempo foi passando e acabei não lendo e agora com a publicação do livro físico e a divulgação eu bati na testa e "Putz, tenho que ler esse livro! É agora ou nunca!". QUE BOM QUE O LI.
O Rio que Me Corta Por Dentro, é um livro que chega de mansinho, com suas poucas páginas, seu formato enxuto, suas quebras de linha generosas, mas que, na verdade, guarda um oceano turbulento dentro de si. Raul Damasceno é um escritor que vem se destacando pela potência de sua escrita, marcada pela intensidade e pela capacidade de tocar em feridas humanas com delicadeza, mas também com brutalidade.
Esse livro, especificamente, é curto, mas nada fácil. Não se engane com o tamanho ou com os “Enters” que espaçam o texto: a narrativa é densa, tensa e de uma intensidade que exige do leitor muito mais do que simples atenção, exige entrega. A história, que transita entre memórias, sentimentos e feridas emocionais, me atravessou de um jeito que precisei de três dias para terminar. Não porque a leitura fosse arrastada, mas porque eu precisava respirar entre uma página e outra. Era como se cada palavra me pedisse silêncio, pausa e digestão, mas se você é um leitor voraz e costuma processar as emoções mais rápido O Rio que Me Corta Por Dentro é daqueles que dá para ler em um dia.
Este volume traz a história de Cícero, um jovem que carrega várias feridas abertas pela vida, mergulhando em lembranças, traumas e ausências que moldam sua forma de existir no seu pequeno mundo, o interior do Ceará, um lugarzinho chamado Carrasco. Ao longo do caminho, personagens como a mãe, Aneci, que simboliza tanto amor quanto dor, pois apesar dele a amar ele acredita que ela o abandonou por tê-lo deixado para ser criado pelos avós e só o ver uma vez por ano, chegando a desaparecer depois de um tempo, as outras figuras/personagens que cercam Cícero, tornam-se parte essencial da correnteza que o arrasta e, ao mesmo tempo, o sustenta, como seus avós que o amam, mas não conseguem substituir a mãe que o abandonou; a criação que proporcionam ao neto cheia de estigmas e falas que são como navalhas, o amor envolvido não faz com que o peso das palavras doam menos. Cada encontro, cada silêncio e cada perda têm um papel crucial na construção de um retrato humano marcado pela vulnerabilidade, mas também pela resistência. Principalmente a relação de Cícero com Luzimar, seu melhor amigo de infância que vai tendo um novo contorno conforme o o tempo passa: criança, um amigo de aventuras; adolescência um amigo que ele olha e o deixa em conflito com sua identidade; juventude, se torna uma revelação, uma luta, um oposto que o atrai.
É verdade: eu sofri lendo. Mas sofri daquele jeito bom, que a literatura potente provoca. E apesar de muita dor e sentimento, compreendo que esse livro corta para depois cicatrizar. A dor aqui é real, palpável, mas também há beleza. Não vou dizer que é um livro que traz um final feliz e que é fofo, pois não é e, ao longo do desenrolar do enredo e da densidade da narrativa, a gente vai percebendo que essa nunca foi a intenção. Não é o final feliz, é a lição, é fazer da vida algo melhor mesmo que tudo esteja desmoronando.
O Rio que Me Corta Por Dentro não é um livro para ser lido: é um livro para ser sentido, e sentir dói, juro que, quase no final fiquei desesperançada e triste pela rota que Cícero foi obrigado a seguir, ele não merecia, sua família não merecia, mas parecia que não tinha jeito então ver o que ele se tornou é extremamente doloroso e angustiante. De verdade. Você não vai terminar o livro feliz, talvez termine a leitura triste e vai precisar de dias para processar e perdoar, se perdoar por tudo o que pensou durante a leitura e seguir em frente.
No fim das contas, esse volume prova que a literatura não precisa de muitas páginas para ser devastadora. Raul Damasceno afirma sua habilidade de criar uma escrita que não é apenas feita para os olhos, mas para o coração e para as cicatrizes de quem lê. Recomendo demais, mas com uma advertência: você não vai sair ileso e esteja preparado para um final real, não romantizado.
Obrigada por ter lido até aqui e até a próxima postagem!
FICHA TÉCNICA |
Título Original: O rio que me corta por dentro. Autor: Raul Damasceno. Tradutor: - Gênero: Romance. Editora: Astral Cultural Ano: 2025 | 176 págs. País de Origem: Brasil. Classificação: +15 Aviso de Conteúdo: Estupro. Transfobia. Tentativa de Suicídio. Suicídio. Assassinato. Violência. Minha avaliação:⭐⭐⭐⭐✨(4,5/5) |
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