Laranja Mecânica não é uma leitura para relaxar. Se você conseguir superar o início confuso e estranho, o volume se torna um soco literário, desses capazes de deixar marcas
Saudações, Leitores!
Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1962) foi escrito pelo britânico Anthony Burgess, um autor prolífico que transitou por romances, ensaios, críticas literárias e até composições musicais. Burgess escreveu mais de 30 livros ao longo da vida, mas foi com Laranja Mecânica que conquistou notoriedade mundial. Vale lembrar que o livro nasceu no calor do início da década de 1960, um período marcado por tensões da Guerra Fria, mudanças culturais, rebeldia juvenil e um debate cada vez mais intenso sobre violência, liberdade individual e poder estatal. Não à toa, o romance reflete e distorce esse contexto de forma brutal e visionária, trazendo aquilo que hoje chamamos de Distopia.
No enredo, acompanhamos o protagonista que narra esta história: Alex, um adolescente de 15 anos que, junto com sua gangue, ou druguis (em nadsat): Pete, Georgie e Tosko, passa as noites praticando atos de violência gratuita, as famosas ultra-violências, em uma sociedade distópica que parece mais interessada em controlar corpos e mentes do que em curar almas. Após ser traído pelos próprios amigos e preso, Alex acaba participando de uma experiência de reabilitação governamental chamada Tratamento Ludovico, que promete “curar” criminosos ao condicioná-los a sentir náusea diante de qualquer impulso violento. É aqui que o livro nos confronta com uma questão perturbadora: o que é preferível, um homem que escolhe o mal ou uma máquina, uma laranja mecânica, programada para o bem?
Um dos grandes diferenciais de Laranja Mecânica é o uso do nadsat, uma gíria inventada por Burgess, mesclando inglês, russo e criações próprias. Esse idioma dá vida ao universo da gangue de Alex e mergulha o leitor em um estranhamento inicial. E aqui preciso confessar: o começo da leitura é árduo. A cada parágrafo, a gente quer recorrer ao glossário para entender aquelas palavras inventadas, mas logo percebemos que a melhor estratégia é deixar fluir. Aos poucos, o idioma deixa de ser uma barreira e passa a ser parte da experiência literária, uma imersão que transforma a leitura em algo quase hipnótico, pois se formos ficar recorrendo ao glossário o livro não engata.
É aqui que faço o alerta: Esse livro não é para todo mundo, tanto por conta desse estranhamento por conta da linguagem inventada, como pela própria história em si que é caótica, tem muita violência e descrições gráficas de tortura. É desolador e muito, muito esquisito.
Laranja Mecânica é uma obra que se sustenta em várias camadas: filosofia moral (livre-arbítrio versus condicionamento), crítica social (o papel opressor do Estado), análise da juventude e violência urbana. Burgess constrói uma distopia que não se contenta em assustar, mas que cutuca o leitor para refletir sobre a essência da humanidade. O romance ecoa questões que ainda hoje são urgentes: até que ponto a sociedade pode intervir no comportamento individual? Existe moralidade sem escolha? Nós temos mesmo a liberdade de escolha numa sociedade cheia de filtros sociais, cheia de convenções? Somos frutos do meio em que vivemos de fato ou a forma que somos é uma escolha que fazemos?
Ler Laranja Mecânica é entrar em um território desconfortável, mas absolutamente necessário. É o tipo de livro que não quer agradar, mas incomodar, e faz isso com maestria. Se no início a estranheza com a linguagem parece um fardo, logo percebemos que faz parte da engrenagem genial que Anthony Burgess construiu para nos jogar de cabeça em uma experiência única, perturbadora e inesquecível.
Inclusive quero só ressaltar mais uma coisa a respeito de Laranja Mecânica, o livro tem uma adaptação de Stanley Kubrick, em 1971, que o alçou ao status de ícone cultural; aliás, o filme é tão marcante que muitos conhecem a história primeiro pela tela e depois pelo livro. Vou assistir? Não sei se tenho coragem, pois só em ler fiquei horrorizada com as partes de violência e tortura que não tenho certeza se teria coragem de ver a adaptação, mas caso veja em algum momento, farei um post a respeito.
Espero que tenha gostado do veredito. Até a próxima postagem!
FICHA TÉCNICA |
Título Original: A Clockwork Orange Autor: Anthony Burgess Tradutor: Fábio Fernandes Gênero: Distopia Editora: Aleph Ano: 1962-2014 | 200 págs. País de Origem: Inglaterra Classificação: +16 Aviso de Conteúdo: Violência. Violência gráfica. Abuso Sexual. Assassinato. Tortura. Tortura Psicológica. Sangue. Minha avaliação:⭐⭐⭐⭐(4/5) |
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