O Silêncio das Montanhas é um eco de várias histórias que se entrelaçam, mostrando que a vida nem sempre é boa e justa o tempo todo e que por trás de uma história há outras tantas que ficam em silêncio
Saudações, Leitores!
O Silêncio das Montanhas (And the Mountains Echoed, 2013) foi escrito por Khaled Hosseini, e este foi meu terceiro romance do autor que estreou com O Caçador de Pipas, A Cidade do Sol e A Memória do Mar. Antes de mais nada, é interessante ressaltar o impacto que Hosseini tem na literatura contemporânea ao nos apresentar histórias profundamente humanas ambientadas, majoritariamente, no contexto do Afeganistão e da diáspora afegã. Khaled Hosseini é um romancista e médico afegão-americano, nascido em Cabul, Afeganistão, em 1965. Sua família se exilou nos Estados Unidos após o golpe de Estado no Afeganistão, quando ele era adolescente. Essa vivência de deslocamento e os conflitos de seu país natal se tornaram a essência de sua obra. Seus romances são aclamados por explorar temas universais como família, amizade, culpa, redenção e o impacto devastador da guerra e da perda.
Neste volume, especificamente, temos uma narrativa que se desdobra ao longo de seis décadas e atravessa diversos países: Afeganistão, França, Grécia e Estados Unidos, explorando as múltiplas ramificações de uma única escolha devastadora.
A história principal de O Silêncio das Montanhas começa em 1952, em uma pequena aldeia no Afeganistão. O pai, Saboor, um homem pobre, é forçado a tomar a decisão mais difícil de sua vida: vender sua filha mais nova, Pari, para um casal rico em Cabul, na esperança de sustentar o restante da família. Essa decisão brutal separa Pari de seu irmão, Abdullah, com quem ela tinha uma ligação visceral. A narrativa inicial é embalada por uma fábula contada pelo pai que, ironicamente, prenuncia a separação.
Mais do que acompanhar apenas os caminhos de Pari e Abdullah após a separação, o livro explora a vida de várias pessoas que, de alguma forma, estão ligadas a eles: a madrasta, o motorista da família rica, um médico grego, e outros. Assim, o romance se torna uma profunda meditação sobre amor, sacrifício, traição, e as consequências de nossas escolhas através das gerações.
Khaled Hosseini, em O Silêncio das Montanhas, mais uma vez, demonstra sua maestria em tecer narrativas que alcançam a essência da experiência humana. A história é incrivelmente sensível e vem toda revestida numa áurea de conto e de nostalgia, um tom quase fabular que suaviza a dureza dos temas tratados.
Você tem a nítida noção de que a história tem características reais, as escolhas desesperadas, os sacrifícios dolorosos e a crueldade da vida em tempos de guerra e pobreza, e nem por isso ela é cem por cento feliz, longe disso. No entanto, ela sempre lhe dá uma certa esperança, a luz tênue que resiste na capacidade humana de amar, cuidar e buscar a conexão familiar, mesmo quando a memória falha e a distância é vasta.
A beleza da escrita de Hosseini reside justamente em nos apresentar situações que, embora ambientadas em um Afeganistão muitas vezes desconhecido, ressoam com sentimentos universais: a dor da perda, a culpa, a força dos laços fraternos e a busca por redenção. A forma como o autor explora a dinâmica familiar, o peso da memória e o poder das escolhas é reflexiva e pungente, garantindo que a jornada dos personagens toque o leitor em um nível profundo e íntimo.
No entanto, talvez a parte mais difícil no volume seja sua estrutura narrativa. O livro é deliberadamente escrito como uma coleção de histórias curtas interligadas, cada capítulo apresentando a perspectiva de um novo personagem, cuja vida se cruza com a de Pari, Abdullah ou seus descendentes.
Essa abordagem, apesar de real, pois, de fato, somos entrelaçados por múltiplas histórias e a vida é uma tapeçaria de encontros e desencontros, pode se tornar um pouco confusa em certos momentos. A mudança constante de foco e de tempo exige uma atenção redobrada do leitor para costurar todas as pontas soltas. Em alguns capítulos, as histórias parecem se afastar demais do núcleo central, tornando-se um pouco cansativas e quebrando o ritmo da leitura.
Mas, no geral, o livro é maravilhoso. O Silêncio das Montanhas é uma meditação profunda sobre o que realmente significa a família, o que somos capazes de sacrificar por ela e como o destino de dois irmãos separados reverbera por gerações e continentes. É um livro que demonstra que as escolhas que fazemos ecoam, muito além das montanhas, no coração de cada um que amamos.
Definitivamente, este é um livro que merece ser lido. Ele não é clichê e nos mostra situações mais reais e complexas, o que agrada a quem busca leituras que desafiam a visão tradicional de "felizes para sempre".
Espero que tenham gostado desse veredito, até a próxima postagem!
FICHA TÉCNICA |
Título Original: And The Mountains Echoed. Autor: Khaled Hosseini. Tradutor: Claudio Carina Gênero: Ficcão Histórica. Romance Histórico. Drama. Editora: Globo Livros. Ano: 2013 | 352 págs. País de Origem: Afeganistão. Classificação: +15 Aviso de Conteúdo: Guerra. Morte. Abandono. Venda de criança. Minha avaliação:⭐⭐⭐⭐✨(4,5/5) |
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