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As Flores Perdidas de Alice Hart - Holly Ringland (resenha)

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

COMPRAR: Amazon

As Flores Perdidas de Alice Hart é um livro que dói porque vemos um ciclo de violência que somente ao se descobrir intimamente e desvendar os segredos pode haver a cura

Saudações, Leitores!

As Flores Perdidas de Alice Hart (The Lost Flowers of Alice Hart, 2018) foi o livro de estreia da escritora australiana Holly Ringlad que descobri ter outros livros, um de ficção: The Seven Skins of Esther Wilding (2022) e um de não ficção sobre o poder transformador da criatividade chamado The House That Joy Built (2023). 

As Flores Perdidas de Alice Hart não estava no meu radar, nunca nem tinha ouvido falar, até porque não tem tradução nacional, é possível encontrá-lo em inglês (físico, ebook e audiobook) e também a edição física em português de Portugal. Mas como fiquei sabendo desse livro? Apesar do volume ter ganhado o General Fiction Book of the Year no Australian Book Industry Awards em 2019, descobri o livro passeando pela Prime Vídeo quando apareceu como uma sugestão de minissérie, na parte de adaptações de livros, li a sinopse e fiquei curiosa, decidi-me a ler primeiro e depois assistir a adaptação datada de 2023. 

Essa obra de Ringlad ganhou destaque internacional por sua escrita mágica e por abordar temas bem sensíveis de forma profunda e poética. Temos um mix de vários assuntos delineados de forma sutil, mas impactante, de modo que a autora traça uma narrativa sobre a violência, a resiliência e a busca pela identidade feminina através das décadas. O elemento central e bastante interessante é o uso da linguagem das flores, ou floriografia, que permeia e estrutura toda a história, apresentando o significado de cada flor em cada início de capítulo.

Em As Flores Perdidas de Alice Hart, a história começa com Alice, uma menina de nove anos que vive num local remoto na Austrália com seus pais (Agnes e Clem) e vai até sua vida adulta, o que podemos facilmente entender como um romance de formação e o mais interessante que o romance começa com uma linguagem mais ingênua e infantil, mas na medida que a protagonista vai crescendo o volume vai ficando com uma linguagem mais evoluída e as situações narradas também vão aumentando as proporções. 

Voltemos para a infância de Alice, que embora vivesse num cenário idílico, o lar era marcado pela violência doméstica e pelos abusos do pai. Após uma tragédia que a deixa órfã, traumatizada e sem voz para falar, Alice é levada para viver em Thornfield, a quinta de sua avó paterna, June Hart, que ela nunca havia conhecido e nem sabia de sua existência.

Thornfield não é apenas uma fazenda de cultivo de flores nativas, é um santuário e um refúgio para mulheres vítimas de abuso, que ali encontram segurança e cura. Naquela fazenda Alice é introduzida à linguagem das flores que sua avó usa no lugar de palavras para se comunicar e proteger segredos. Ao longo de suas décadas, acompanhamos o crescimento de Alice, sua adaptação a uma nova família de mulheres, chamadas Flores e sua incessante busca por verdades e segredos escondidos no seu passado e no de sua família.

O romance é um retrato sensível e emocionante que atravessa o crescimento de Alice, mostrando como a violência e o silêncio se perpetuam por gerações e como ela precisa, por fim, encontrar a coragem para ser a única dona de sua própria história, enfrentando os segredos de June e as mentiras do passado. |Não tem como finalizar As Flores Perdidas de Alice Hart sem ficar reflexiva e ponderando como as vezes nós mesmos negligenciamos nossa voz (mulheres são ensinadas a fazer isso desde crianças,, né?) e como tentamos a todo custo ignorar sinais de violência em nome de um suposto "amor".

Minha experiência lendo As Flores Perdidas de Alice Hart não poderia ter sido melhor, o volume é uma leitura arrebatadora e lírica, a narrativa de Holly Ringlad transforma uma história crua e muito difícil (ler esse livro dói) sobre a violência de gênero em um conto quase mágico, graças ao simbolismo das flores que entremeia toda a história e também à ambientação australiana.

A linguagem das flores é o coração do livro, não apenas um adereço literário, mas a própria estrutura que guia a vida de Alice e de sua família. É um mecanismo de comunicação e de silêncio imposto, que reflete o quanto as vítimas de traumas muitas vezes precisam encontrar formas não verbais de expressar a dor. A autora lida com o tema do abuso familiar com inteligência e cuidado, mostrando como as feridas da infância moldam a vida adulta e como o ciclo de dor pode ser difícil de quebrar. No entanto, o livro é, acima de tudo, um hino à resiliência feminina. A força das mulheres de Thornfield, que se apoiam mutuamente, é um elemento de esperança que percorre toda a obra.

Apesar de ser uma história poderosa e sensível, a narrativa, ao acompanhar Alice por vinte anos e explorar tantas camadas de segredos familiares, foge da estrutura clichê. Talvez, para quem busca um ritmo acelerado, o lado mais reflexivo e, por vezes, melancólico do livro possa ser menos envolvente. Os dilemas de Alice são complexos, reais e, por vezes, dolorosos de acompanhar, mostrando que a vida real, mesmo depois da cura, nunca é cem por cento feliz, mas que a coragem é a flor mais importante.

Em suma, As Flores Perdidas de Alice Hart é um livro cativante e, atrevo-me a dizer, essencial para quem aprecia um drama familiar profundo, que usa a beleza da natureza para falar sobre as feridas mais profundas da alma. É um volume que, sem dúvida, ficará marcado na memoria de quem o lê. Na minha memória já está marcado, só fico triste por não ter a edição física, li em e-book. Agora já preciso assistir a adaptação e venho comentar aqui no site quando o fizer.

Obrigada por terem lido, espero que os tenha empolgado para ler, até a próxima postagem!

FICHA TÉCNICA
Título Original: The Lost Flowers of Alice Hart
Autor: Holly Ringland
Tradutor: Cláudia Ramos
Gênero: Ficção. Drama.
Editora: Porto Editora
Ano: 2018 | 400 págs.
País de Origem: Austrália
Classificação: +15
Aviso de Conteúdo: Violência doméstica. Incêndio. Trauma psicológico. Luto. Ataque Cardíaco. Violência contra animais.
Minha avaliação:⭐⭐⭐⭐(4/5)
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