Peter Pan é o típico livro infantojuvenil que não é tão inocente assim. Repleto de camadas o volume nos apresenta muitos pontos de discussão...
Saudações, Leitores!
Publicado originalmente em 1911, Peter Pan, é uma das obras mais icônicas do escocês J. M. Barrie, um autor que também escreveu peças de teatro e romances, mas que ficou eternizado justamente por criar o menino que se recusa a crescer. A primeira aparição de Peter foi em uma peça teatral de 1904 e, mais tarde, ganhou forma definitiva no romance Peter and Wendy. Desde então, a história já foi adaptada inúmeras vezes para o teatro, televisão e cinema (da animação clássica da Disney ao sombrio Em Busca da Terra do Nunca), passando por diversas releituras modernas que só provam a força desse mito literário.
A trama é simples: Peter Pan, o garoto que vive na Terra do Nunca e nunca envelhece, leva Wendy Darling e seus dois irmãos: João e Miguel para conhecer esse universo mágico habitado por fadas, piratas, sereias e, claro, o icônico Capitão Gancho. É um enredo de aventura, fantasia e descobertas, mas com uma dose de melancolia escondida sob o brilho da imaginação e também alguns perigos e manipulações por parte de todos os personagens que não são nem mocinhos e nem bandidos 100% do tempo.
Agora, preciso ser honesta, apesar de conhecer a história de Peter Pan eu nunca tinha lido o livro e nem sabia que ele é fruto de uma peça de teatro (a peça veio primeiro que o romance), então isso foi uma baita surpresa para mim, mas outra grande surpresa foi notar que as adaptações e o que eu conhecia/lembrava sobre essa história é bem semelhante ao que encontrei no romance (estou até com vontade de ver algum filme novamente).
Um ponto que merece destaque é perceber que este não é um livro fofinho e inocente como a gente pode pensar que é. O texto de Barrie tem arestas afiadas e inúmeras referência a outros livros e autores que lhe servem como referência. Peter, por exemplo, está longe de ser um herói simpático, ele é vaidoso, egoísta e, em muitos momentos, até cruel. Wendy, por outro lado, encarna uma figura maternal precoce, que nos faz questionar o peso de papéis de gênero impostos às mulheres, mesmo em uma obra infantil. Já Gancho, o "vilão", acaba sendo quase mais humano do que o próprio Peter, pois vive em conflito interno e carrega uma angústia existencial que o protagonista parece ignorar. Sininho, a fada, também tem características bem cruéis e manipuladoras, mas também se mostra como heroína quando é capaz de tudo para salvar quem ama. A família Darling também traz uma reflexão gigantesca, alguns exemplos são o comportamento dos pais (principalmente a figura paterna que mesmo sendo aquele provedor, parece que nunca cresceu e que depende da mulher até para dar o nó na gravata) até os filhos que esquecem dos pais tão rapidamente que essas figuras parecem ser irrelevantes, como se não fossem suas referências para os valores e vidas que cultivam (por quê?).
E é justamente aí que o livro ganha força: a narrativa não nos entrega um mundo perfeito, mas um universo cheio de contradições. É sobre a infância, sim, mas também sobre a incapacidade de aceitar o crescimento e a inevitabilidade do tempo. Peter Pan é bonito, mas incômodo; mágico, mas cheio de sombras. É um daqueles clássicos que você lê e percebe que não era só um conto de ninar, era, na verdade, um espelho nada gentil da condição humana.
Como figura central e que dá nome ao livro Peter Pan não é apenas o menino que não cresce. Ele é o retrato da infantilidade que se recusa a amadurecer e isso nem sempre é encantador, mas é essa característica que nos faz refletir também sobre a atemporalidade da obra, porque trazendo o personagem para o plano real, acredito que cada leitor vai identificar no personagem alguém conhecido que até cresce na forma, mas nas ações, não.
Ter assistido Peter Pan quando criança e adolescente foi mágico, sem dúvida, mas ler Peter Pan como adulto é descobrir que a Terra do Nunca tem mais monstros do que fadas. No fim das contas, eu creio que esse é um daqueles livros que merecem ser revisitados em diferentes idades. Na infância, você enxerga aventura e magia; na vida adulta, encontra crítica social, melancolia e até certo desconforto. É exatamente essa dualidade que faz a obra resistir mais de um século depois.
Por fim, querido ou odiado, Peter Pan continua nos provocando. Afinal, quem nunca quis ficar na Terra do Nunca, mas, ao mesmo tempo, teve medo de nunca mais voltar? Quem nunca desejou ser criança para sempre ou voltar a sê-lo?
Espero que tenham gostado da resenha, até a próxima postagem!
FICHA TÉCNICA |
Título Original: Peter Pan Autor: J. M. Barrie Tradutor: Julia Romeu Gênero: Infantojuvenil Editora: Zahar Ano: 1911-2013 | 255 págs. País de Origem: Escócia. Classificação: +10 Aviso de Conteúdo: Solidão. Abandono. Instabilidade emocional. Dependência familiar. Medo de crescer. Orfandade. Ataque animal. Minha avaliação:⭐⭐⭐⭐(4/5) |
Postar um comentário
Muito obrigada pelo Comentário!!!!