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Mau Hábito - Alana S. Portero (resenha)

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

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Mau Hábito é uma obra que ensina através da emoção e nos lembra que a dor e a esperança caminham juntas

Saudações, Leitores!

Hoje vim escrever um pouco sobre o livro Mau Hábito (La Mala Costumbre, 2023), romance de estreia de Alana S. Portero: escritora, dramaturga, poetisa, diretora teatral e ativista espanhola das causas feministas e LGBTQIA+, com foco especial na realidade das mulheres trans. Antes de mais nada, é interessante ressaltar o sucesso desse livro, que se tornou um fenômeno editorial em seu país e foi traduzido para vários idiomas, além disso a escrita de Portero é inseparável de sua vivência e de seu olhar político sobre o mundo. Apesar de Mau Hábito ser seu romance inaugural, ele atesta seu talento para a ficção, no entanto, a autora já contribuiu com outras obras e antologias de poesia.

Em Mau Hábito, temos um mix de vários assuntos delineados de forma sutil, mas impactante. O romance é um poderoso livro de formação que acompanha uma protagonista desde sua infância nos anos 80 até o raiar do novo milênio, em Madri. A história inicia no bairro operário de San Blas, uma comunidade suburbana marcada pela pobreza e, nos anos 80, pela epidemia de heroína.  Acompanhamos uma criança que nasce em um corpo que não reconhece como o seu e a maneira como ela tenta desbravar o caminho em direção à sua identidade, à revelia de sua própria confusão interna e da hostilidade do mundo.

O romance é um retrato íntimo da autodescoberta de uma mulher trans, mostrando as tentativas da personagem se encaixar em uma masculinidade que a agride, sua admiração secreta pelas mulheres fortes de sua vida e, principalmente, sua jornada de busca por seus pares. A protagonista encontra seu verdadeiro refúgio nas noites clandestinas de Madri, onde conhece outras mulheres trans e travestis, como Eugenia, que se torna uma inspiração e um farol de futuro, mesmo em meio ao perigo e ao preconceito. É uma história crua e poética sobre a luta para habitar o próprio corpo e enfrentar seu destino.

A leitura de Mau Hábito é maravilhosa, a escrita de Alana S. Portero possui uma sensibilidade poética que reveste uma realidade brutal sobre a vivência de muitas pessoas trans. A autora consegue equilibrar perfeitamente a delicadeza e a ferocidade, a esperança e a violência, a luta e o preconceito. Para mim, a leitura foi extremamente fluída. Os capítulos são curtos e a linguagem é muito acessível, envolvente e direta. Portero tece sua prosa com habilidade de quem conhece a fundo o chão que pisa, transformando  a dor e a adversidade em uma narrativa tanto épica quanto lírica.

É importante frisar que, nesse volume, há vários assuntos que são delineados de forma sutil, mas que tornam a história um espelho da sociedade contemporânea (não só de Madri, mas creio que do mundo todo). Mau Hábito não tem medo de ser difícil, acho que o propósito foi esse: ser realista e, é por isso que vou citar alguns dos temas e gatilhos que encontramos na leitura: entre eles se destaca a disforia de gênero e o desejo suicida, ou seja, a angústia e o sofrimento causado pela incongruência de nascer em um corpo que não se sente seu e por isso vem o desejo de acabar com tudo; também encontramos a violência de gênero e o abuso, abordando o perigo real sofrido pelas mulheres trans (embora Portero tenha na grande maioria das vezes evitado o detalhe explícito do abuso e focado no impacto emocional, o fato é que deixou claramente subentendido); outro gatilho que encontramos é a crucial consciência de classe, pois quando falamos de pessoas trans, o cenário de pobreza agrava ainda mais a vulnerabilidade dessa população; mas os gatilhos não finalizam por aí, tem muitos outros que são de marejar os olhos.

A verdade é que mesmo diante de temas pesados Alana S. Portero consegue abordá-los de forma reflexiva, real e com responsabilidade. Fico pensando que quem faz parte da comunidade pode se identificar muito com a jornada da personagem, com o medo, a busca e a celebração de se encontrar. Da mesma forma, quem não faz parte da comunidade pode aprender muito ao ler este livro, pois ele preenche nuances de uma realidade muitas vezes invisível ou estereotipadas e até mesmo de aparências porque é difícil você ver uma pessoa trans se mostrar triste, mesmo diante dos desafios e isso faz parecer que suas vivências são ok, mas nem sempre são, em sua grande maioria são vivências de muita luta e preconceito, tanto de autoaceitação quando por dignidade e respeito.

Mau Hábito é um livro que merece ser lido. É uma obra que ensina através da emoção e nos lembra que a dor e a esperança caminham juntas na jornada para nos tornarmos quem realmente somos. Espero que tenham gostado da resenha e, caso você já tenha lido o livro me conta o que achou nos comentário, certo? Aliás você já tinha ouvido falar desse livro antes? Acho que aqui no BR ele não foi tão divulgado assim... 

Até a próxima postagem!

FICHA TÉCNICA
Título Original: La Mala Costumbre
Autor: Alana S. Portero
Tradutor: Be RGB
Gênero: Ficcão. Romance LGBTQIA+. Drama.
Editora: Amarcord 
Ano: 2023 | 288 págs.
País de Origem: Espanha
Classificação: +15
Aviso de Conteúdo: Transfobia. Assédio. Estupro. Preconceito. Violência física. AIDS, Câncer.
Minha avaliação: ⭐⭐⭐(3,5/5)
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