Como Arruinar um Casamento nos mostra claramente que a vida não tem a menor obrigação de ser perfeita, mas nós temos o direito de buscar nossa felicidade
Saudações, Leitores!
Este ano ouvi falar bastante sobre Como Arruinar um Casamento (The Wedding People, 2024) e fiquei bastante curiosa para conhecer essa história, pois os comentários na web me prometeram um livro com temas fortes, mas que entregava tudo com humor e comédia que davam um equilíbrio aos assuntos mais fortes. O livro foi escrito por Alison Espach, uma romancista norte-americana que além de escritora é professora de inglês e já escreveu outros dois livros The Adults (2011) e Notes on Your Sudden Disappearance (2022), que não foram traduzidos para o BR. Como Arruinar um Casamento é o terceiro e mais recente livro da autora e o primeiro contato que tenho com sua escrita.
Em Como Arruinar um Casamento vamos acompanhar Phoebe uma mulher recém divorciada, emocionalmente devastada e depressiva que se encontra literalmente no fundo do poço. Sem bagagem e vestindo somente a roupa de corpo, Phoebe se hospeda na Pousada Cornwall, em Newport, Rhode Island. Ela estava ali inicialmente para um último ato, isto é, uma última extravagância: cometer suicídio após uma profunda crise de saúde mental, o término de seu casamento e a morte de seu gato.
Porém, o hotel está completamente reservado para um evento: o casamento meticulosamente planejado de Lila e Gary. Phoebe acaba infiltrada num casamento sem querer e o pior foi uma confusão da hospedagem e isso choca a todos, inclusive a noiva que não esperava ninguém estranho na sua comemoração, porém Phoebe é imediatamente confundida com uma das convidadas por todos, e a ironia começa a se desenhar: a mulher que está em seu momento de maior desolação acaba infiltrada na celebração máxima do amor e da esperança.
A noiva, Lila, que tentou prever todos os desastres possíveis, não contava com uma intrusa tão deslocada e com ideação suicida que poderia a qualquer momento "destruir" seu casamento com sua morte, pois seria uma tragédia que marcaria sua comemoração.
Apesar disso, à medida que o fim de semana avança, a presença de Phoebe se torna um mistério para o grupo do casamento e para a surpresa de todos, as duas mulheres, em estágios de vida opostos, uma começando e outra recomeçando, desenvolvem uma amizade improvável e acabam se tornando confidentes, expondo as fragilidades por trás do véu da perfeição.
E todos os convidados acabam formando algum tipo de vínculo com Phoebe que diz tudo o que pensa porque aquelas pessoas são estranhas e absolutamente fúteis para ela. Porém é quando ela não se impõe filtros que vai acabar descobrindo quem ela é e talvez... só talvez, mudando de opinião sobre o que quer fazer.
Eu gostei muito do livro. A escrita da Alison Espach, pois ela conseguiu o que parece ser quase impossível: tratar de temáticas pesadas, como tentativa de suicídio, traição, luto e depressão, mantendo um humor no tom certo. Não é um humor forçado; é a ironia que nasce da própria tragédia, aquela dose de sarcasmo que usamos para lidar com o insuportável.
A reflexão que fica é sobre a ilusão do felizes para sempre e o processo de reconstrução. A jornada de Phoebe é o cerne do livro, sua vulnerabilidade é o contraponto perfeito para a rigidez da festa de Lila, que quer ter o controle de tudo e esquece do significado real daquele momento tão único. É fascinante como a autora usa o ambiente saturado de expectativas, o casamento perfeito, para desconstruir a própria ideia de que a felicidade é um destino, e não um trabalho contínuo. De que o felizes para sempre só existe nos contos de fadas.
Alison Espach nos mostra as etapas de um relacionamento, os momentos bons, os mais dolorosos e o pode fortalecer ou distanciar as relações. Mostra que a felicidade pode ser algo aparente e que as vezes sequer é real, mostra que muitas das decisões estão pautadas em outras coisas e não nas próprias pessoas envolvidas, que a falta da autoanálise pode levar qualquer pessoas a cometer erros.
Vale ressaltar que, mesmo eu falando que o foco é Phoebe, os demais personagens são maravilhosamente imperfeitos e abrilhantam o volume, ademais, Espach consegue trazer um bom desenvolvimento para todos. A observação social de Phoebe sobre os convidados e as dinâmicas de poder e infidelidade dos mesmo são hilárias e dolorosas ao mesmo tempo. A autora tem a habilidade de nos fazer rir de situações que, se não fossem tão bem escritas, seriam apenas tristeza.
Como Arruinar um Casamento nos lembra que, mesmo quando achamos que estamos no fundo do poço, encontros inesperados e a simples humanidade de estranhos podem ser a nossa chance de recomeçar. É uma obra que critica sutilmente a performance social que mantemos e valoriza a beleza e a bagunça da vulnerabilidade.
Recomendo demais Como Arruinar um Casamento para quem gosta de dramas familiares com uma pitada de acidez e muita profundidade emocional. Valeu a pena ler e conhecer essa história.
Obrigada por terem lido e até a próxima postagem!
| FICHA TÉCNICA |
| Título Original: The Wedding People Autor: Alison Espach Tradutor: Laura Folgueira Gênero: Ficcão. Romance. Drama. Editora: Harlequin Ano: 2024 - 2025 | 368 págs. País de Origem: Estados Unidos Classificação: +13 Aviso de Conteúdo: Traição. Separação. Ideação Suicida. Tentativa de Suicídio. Luto. Câncer (menção). Morte de animal (menção Minha avaliação: ⭐⭐⭐⭐(4/5) |
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