A Chuva, ou melhor a série Blackwater é sobre família, ambições, feridas, escolhas e consequências.
Saudações, Leitores!
A Chuva (Rain, 1983) é o sexto e último livro da saga Blackwater, escrita por Michael McDowell, um volume que chega para fechar não apenas uma história, mas um ciclo completo que atravessa décadas da família Caskey e, do lado de cá, encerra também um percurso de leitura que venho compartilhando volume a volume aqui no site com muita empolgação. Já resenhei todos os livros anteriores: A Enchente, O Dique, A Casa, A Guerra e A Fortuna. Confesso que abrir este último exemplar foi um misto muito especial de felicidade, nostalgia e aquela pontinha de saudade antecipada que só quem acompanha uma série entende, apesar de curtinha é uma série que se passa ao longo de tantos anos e gerações de Caskey que a gente fica totalmente imersa.
Agora já deixo meu alerta de spoilers nessa resenha, não tem como não ter.
Em A Chuva, reencontramos um cenário já conhecido, mas agora carregado de presságios. Perdemos alguns personagens importantes, outros assumiram papéis que jamais imaginaríamos nas primeiras páginas lá do volume 1, e a família Caskey se encontra diante de um retorno inevitável: a água. A enchente volta, assim como veio no início da série, mas desta vez carregada não de mistério, e sim de consequências. É impossível não notar o simbolismo: tudo aquilo que a família construiu, protegeu, sacrificou e, em muitos momentos, impôs aos outros, retorna para cobrar seu preço.
Neste volume, acompanhamos as tensões que se acumulam dentro da família: segredos que se tornam inúteis diante da força da natureza; Elinor, sempre enigmática, lutando contra um destino que, no fundo, ela sabia que não poderia controlar; Frances mostrando sua força de maneira silenciosa, firme, quase inabalável; e Miriam, que consegue ser um dos maiores retratos da crítica social da obra, amadurecendo dentro do caos e tomando decisões que repercutem não só para si, mas para o futuro de todos os Caskey. Também vemos a cidade lidando com rumores, medo, e aquela eterna disputa entre o que é sobrenatural e o que é apenas consequência humana.
A chuva cai, sem parar. Os rios sobem. O dique cede. As relações racham. E nós, leitores, sentimos que estamos assistindo à inevitável cobrança de uma linhagem que prosperou à base de barganhas, segredos, mentiras explícitas ou implícitas, com a água, com o silêncio, com o poder. Acho que após a decisão de Frances no volume anterior, Elinor, já idosa, não poderia mais conter todos os segredos e mistérios voltando para cobrar o preço. Fico pensando que, talvez, se Frances não tivesse tomado a decisão as coisas pudessem ter sido diferente, mas tudo foi como foi...
Como sempre ressalto, gosto muito da fluidez narrativa de McDowell e, nesse desfecho, ela foi cirúrgica: direta, envolvente, às vezes cortante. A trama segue o ritmo que a própria enchente impõe: crescente, sufocante, inevitável. A evolução dos personagens, aqui ressalto o desfecho de Queenie, Oscar, Miriam, Billy e Lilah se mostram coerentes com tudo o que vimos nos volumes anteriores, e o final… ah, o final! Ele já vinha sendo preparado há muito tempo e eu já esperava por isso, mas ainda assim me comoveu por eu estar envolvida com a história e os personagens, a força simbólica desse final é imensa. McDowell não entrega um desfecho chocante, mas um desfecho que fecha, e isso, no contexto de uma saga familiar tão longeva, é ainda mais poderoso.
E aqui fica a reflexão que não consegui tirar da cabeça: Se tudo começou com uma enchente e tudo termina com outra, o que, afinal, a água levou? E o que ela deixou? A família Caskey prosperou como poucas. Construiu um império, desafiou lendas, fez escolhas duras. Mas valeu a pena? Valeu o preço? A enchente final parece responder por si mesma, lembrando que nenhuma fortuna, nenhum legado e nenhum segredo permanecem intactos quando o ciclo natural decide se fechar. É poético, emocionante e ao mesmo tempo triste, sabe?
Blackwater é uma série sobre família, ambições, feridas, escolhas e consequências. E agora, olhando para trás, vejo o quanto cada volume construiu esse desfecho. Fecho o livro feliz, tocada, e um pouco órfã, como sempre acontece quando encontramos uma grande narrativa que sabe exatamente quando e como terminar.
Se McDowell quis criar um épico sulista com um fundo mítico, social e emocional, ele conseguiu. E eu, leitora nostálgica desse fim, só posso agradecer pela jornada.
Espero que tenham gostado da resenha, até a próxima postagem!
| FICHA TÉCNICA |
| Título Original: Rain (Blackwater, v.6) Autor: Michael McDowell Tradutor: Fabiano Morais Gênero: Ficção. Suspense. Mistério. Editora: Arqueiro Ano: 1983-2025 | 304 págs. País de Origem: Estados Unidos. Classificação: +14 Aviso de Conteúdo: Sobrenatural. Assassinato. Monstros. Escravidão. Enchente. Luto. Minha avaliação: ⭐⭐⭐⭐(4/5) |

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