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Resenha: O Gigante Enterrado - Kazuo Ishiguro

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Saudações Leitores!
Gosto de livros que nos fazem questionar e pensar em muitas coisas dentro daquela história na medida em que vamos lendo e O Gigante Enterrado* me proporcionou esse sentimento. O livro foi recentemente lançado pela Companhia das Letras que me enviou uma prova do mesmo para que eu pudesse resenhar, agora vocês conferem abaixo o resultado da leitura.

O Gigante Enterrado, Kazuo Ishiguro, São Paulo: Companhia das Letras, 2015, 400 pág.
Traduzido por Sonia Moreira

O Gigante Enterrado (2015, The Buried Giant) é um livro de Kazuo Ishiguro, que há 10 anos sem escrever presenteia, novamente, seus leitores com mais uma obra. Ishiguro é nasceu no Japão, mas erradicou-se na Inglaterra. Trata-se de um escritor com romances premiados e já adaptados cinematograficamente, escreveu o livro Não Me Abandone Jamais, Noturnos, Quando Éramos Órfãos e Os Resíduos do Dia.
Logo no começo da obra começamos a acompanhar um casal de idosos Axl e Beatrice que saem do lugar onde moram para ir a procura de seu filho, já que estão há anos sem se encontrarem. Portanto, a narrativa fala sobre essa viagem do casal, os percalços, as aventuras e descobertas.
É interessante ressaltar que a história se passa em uma terra marcada por guerras e há algo místico onde os personagens não conseguem se lembrar quem são e nem de seus passados com exatidão. No princípio do livro pensei que isso se dava porque o casal era idoso, com o desenrolar da narrativa percebi que havia um mistério, uma névoa (como os personagens chamam) de esquecimento que se alastrou por todas as pessoas, com o prosseguimento da narrativa, vão surgindo outros personagens que acompanham o casal de idosos nessa jornada, que acaba mudando completamente de rumo.
"É muito esquisito mesmo como o mundo está esquecendo das pessoas e de coisas que aconteceram ontem ou anteontem. É como se uma doença tivesse contagiado a todos nós." (p.27)
Nesse ínterim, surgem o guerreiro Wistan, o menino aprendiz Edwin, e o cavaleiro de Artur, Sir Gawain. Todos os personagens juntos debatem sobre diversas temáticas e conceitos que nos fazem questionar e recordar um pouco da nossa própria vida. Ficamos a par que a névoa do esquecimento é fruto do bafo da dragoa, que deve ser morta para que todos possam recordar de seu passado.
Na medida em que essa viagem torna-se uma aventura e ao mesmo tempo algo além do que Axl e Beatrice imaginaram ao sair da comunidade em que moravam, vamos percebendo descobrindo fatos sobre a vida de cada um dos personagens que de certa forma estão todos ligados, mas que por conta da névoa, jamais poderiam saber, tais detalhes vão se delineando em sonhos, pequenas recordações, coisas que aparentemente os próprios personagens têm dúvida se o que lembram é/foi real ou não.
"Eu me pergunto se, sem as nossas lembranças, o nosso amor não está condenado a murchar e morrer." (p.59)
Esse é um ponto genial do livro, porque o leitor se coloca sob a névoa do esquecimento também, ou seja, não somos apenas leitores passivos, nós acabamos participando dessa narrativa, estamos sob o efeito da névoa, não recordamos o nosso passado, que é o passado da humanidade, porque nem toda a história possível seria capaz de nos fazer lembrar todas as vitórias, guerras, perdas e dores pelas quais a humanidade já passou.
"Se as nossas lembranças voltarem e, entre elas, a de momentos em que te desapontei, ou de atos condenáveis que eu um dia possa ter cometido e que a façam olhar para mim e não enxergar mais o homem que você está vendo agora, me prometa uma coisa pelo menos: prometa, princesa, que não vai esquecer o que sente por mim no fundo do seu coração neste momento. Pois de que adianta uma lembrança voltar da névoa se for para apagar outra? Você me promete isso, princesa? Promete que vai guardar para sempre no seu coração o que está sentindo por mim agora, não importa o que você veja quando a névoa passar?" (p.320)
Sem dúvida, O Gigante Enterrado, é um desses livros que nos fazem refletir sobre nossa própria história, sobre tudo aquilo que esquecemos e já não somos mais capazes de lembrar. Durante toda a leitura me deparei com temas absurdamente fantásticos e passíveis de um estudo mais aprofundado, de uma pesquisa e análise literária, sem dúvida, se eu tivesse algum artigo para fazer sobre algum livro, eu escolheria esse.
Não vou dizer que a leitura é fácil, leve, fluida, os livros de Ishiguro, pelo menos o que já tinha lido anteriormente (Não Me Abandone Jamais) não é uma leitura fácil e bonitinha, é uma narrativa lenta, lenta como uma viagem a pé, para fazer o leitor pensar e assimilar o que está lendo. Kazuo Ishiguro tem uma narrativa madura, um estilo próprio, um jeito lento de contar estórias e uma forma peculiar de misturar realidade, ficção e elementos fantásticos/absurdos.
"_Axl, me dia uma coisa, se a dragoa morrer mesmo e a névoa começar a se dissipar... Axl, você alguma vez já teve medo do que nós vamos descobrir quando isso acontecer? 
_ Mas você mesma não disse, princesa, que a nossa vida juntos é como uma história com final feliz, não importa que curvas ela tenha feito no caminho." (p.308)
O leitor tem que se entregar a essa leitura para poder tentar recuperar sua essência, não é apenas uma leitura para entreter e passar o tempo, é um livro para inquietar. Apesar de eu ter gostado muito, sei e reconheço que o livro pode não agradar a todo tipo de leitor, acredito que é uma leitura madura, complexa e metafórica que merece ser observada, sobretudo, as entrelinhas, o não-dito.
Para concluir, quero ressaltar o próprio título do livro O Gigante Enterrado, daria um bom estudo sobre o que é o gigante enterrado e o porquê desse título tão metafórico, Fabuloso desde a escolha do título ao seu desenvolvimento.
"O gigante, que antes estava bem enterrado, agora se remexe." (p.369)
Minha experiência anterior com o escritor, fez-me apreciar bem mais esse livro do que o anterior, porque antes eu não sabia que estilo de narrativa esperar e agora, bem mais preparada e mais madura literalmente e literariamente, inclinei-me a apreciação da obra e gostei, não obstante, creio que em alguns momentosa narrativa se tornou brevemente maçante, mas o escritor soube contornar esse detalhe, com partes bastante eletrizantes e misteriosas. No fim da leitura fiquei com saudade, confesso que fiquei afeiçoada aos personagens – sobretudo ao casal de idosos – e chegar ao fim, com aquele Fim, me deixou saudosista.

*Esse livro foi cortesia da Companhia das Letras, para maiores informações acerca do mesmo acesse AQUI.

8 comentários :

  1. Oi,Mila!
    Eu nunca li nada do autor e, confesso, estou me sentindo vazia por isso. Que livro lindo! A temática me encantou. Também curto livros cuja leitura é mais complexa, onde o enredo é mais intrincado e que o autor nos convida a fazer uma reflexão profunda. Eu acho que eu me perderia completamente durante essa leitura, no sentido metafórico mesmo. Sou daquelas que mergulha na narrativa literalmente. Acho que esse seria um dos livros que devemos levar pra vida, né? A mensagem é bem clara e deixa evidente o quanto estamos propícios a esquecer coisas importantes ao nosso respeito e sobre tudo/todos que nos cercam.
    Adorei! Vai pra lista de desejados.

    Bj grande!
    Zilda Peixoto
    http://www.cacholaliteraria.com.br

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    1. Olá Zilda,

      Obrigada pela visita e comentário. Kazuo Ishiguro não é uma leitura leve e fácil, é muito denso e complexo, até porque seus livros são bem metafóricos, sabe? Não é um livro para se ler de um fôlego só, é mais para a precisar, ficar refletindo, saborear.... É lento, mas vale a pena. Estou encantada por esse livro.
      Acho que você gostaria mesmo Zilda, fica aqui minha dica para você.

      xoxo
      Mila F.

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  2. Não conheço esse autor, ótima resenha! Obrigada pela dica!

    SUA ESTANTE
    Gatita&Cia.

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    1. Olá Willow,

      Pois eh, não conheço muita gente que conheça o autor, que o já tenha lido, mas sempre aproveito as oportunidades para apresentá-lo. Gostaria que você pudesse lê-lo, é bem agradável a leitura, principalmente para quem quer fugir de livros clichês e levinhos, quem quer algo mais profundo.

      xoxo
      Mila F.

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  3. Oi, Mila! Cheguei ao seu blog fazendo uma busca rápida por resenhas desse livro, porque acabei de lê-lo, e como nenhum dos meus amigos até agora o leu, essa foi minha única opção... Precisava "falar" dele com alguém!
    Foi minha primeira experiência com o autor, e minha impressão não poderia ter sido melhor. Sério mesmo! Amei o livro, amei os personagens, amei esta edição impecável da Companhia das Letras! E o final... Nossa! Fiquei tão chocada, com vontade de chorar... O livro mexeu muito comigo. Deve escrever sobre ele no meu blog em breve: www.literasutra.com.
    Um abraço,
    Mona

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    1. Mona, olá!

      Que lindeza de comentário, por vezes me sinto ansiosa para falar sobre os livros que leio e fico triste quando ninguém o leu, então a solução é o mundo dos blogs e das opiniões alheias... amo muito isso... Obrigada pelo comentário. Como eu disse, eu amei o livro até mais do que o livro anterior que li...

      xoxo
      Mila F.

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  4. Alguém pode me ajudar?kkk
    preciso fazer um trabalho e está pedindo a caracterização dos personagens..do livro "O GIGANTE ENTERRADO", e não dá tempo de ler tudo o livro..tenho que entregar este trabalho amanhã...
    ALGUM PODE ME AJUDAR? POR FAVOR.. AGRADEÇO DE CORAÇÃO ♡♡!

    E VOU COMEÇAR A LER ESTE LIVRO AMANHÃ MESMO!

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    1. (o.O)

      não sei o que dizer a respeito... o trabalho é seu, por que passar a responsabilidade a outros?
      Aconselho que leia o livro e tente se divertir ao máximo com a experiência.

      xoxo
      Mila F.

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Muito obrigada pelo Comentário!!!!

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