Saudações, Leitores!
Lembro que quando li Mentirosos foi numa prova antecipada (com capa amarela) que a Editora Seguinte me enviou e surtei, fritou o meu cérebro e agora que ia lançar a série reli o livro novamente (confira aqui Leitura, Releitura) para poder vir aqui e explanar com propriedade sobre esse babado que foi a adaptação. Vamos lá?
Título Original: We Were Liars (Season 1)
Sinopse: Mentirosos acompanha Cadence Sinclair Eastman e seus amigos mais próximos, apelidados de mentirosos, durante o verão na ilha particular de seu avô na Nova Inglaterra. Os Sinclairs são da realeza americana, conhecidos por sua boa aparência, riqueza hereditária e laços invejáveis, mas depois de um misterioso acidente, a vida de Cadence muda para sempre. Todos, inclusive seus amados amigos, parecem ter algo a esconder.
MENTIROSOS: O Livro te deixa no chão, a série te dá um empurrão
Se você já leu Mentirosos, da genial (e um pouco sádica) E. Lockhart, sabe que esse livro não é pra qualquer coração fraco. Você começa achando que está num romance fofo de férias de verão de gente rica e problemática... e termina abraçado numa almofada gritando "COMO ASSIM, PRODUÇÃO????" Foi exatamente assim que fiquei na primeira vez que li, confesso que na releitura eu gostei, mas por já saber o que estava acontecendo o livro não tive o mesmo impacto.
Agora, se você viu que a Prime Vídeo resolveu adaptar essa belezura em forma de trauma adolescente pra série, provavelmente pensou: “Será que eles vão ter coragem de fazer o que a Lockhart fez?”
Spoiler sem spoilers: eles tentaram. Mas nem todo mundo tem o mesmo sangue frio que a autora.
Enredo: Boas-vindas à ilha dos privilégios e das bombas emocionais
A história gira em torno de Cadence Sinclair Eastman, herdeira de uma família riquíssima e cheia de problemas varridos para debaixo do tapete de mármore. Ela, os primos Johnny e Mirren, e o outsider irresistível Gat formam o grupo dos “Mentirosos”, aquele tipo de quarteto que parece saído de comercial de bronzeador... até você perceber que tem mais rachadura nessa ilha do que nas relações da família real.
No livro, Lockhart entrega a narrativa como um quebra-cabeça partido. Fragmentado, lírico, com uma protagonista que claramente esconde algo, até de si mesma.
Na série? Bom, digamos que a ilha ainda está lá, o drama está lá, mas o plot twist... chega com menos estardalhaço. Parece até que a maré estava baixa, mas mesmo assim muito boa. A série também trouxe algumas diferenças em relação ao livro e trouxe elementos que não estavam presentes na obra original, mas que deu uma boa incrementada e ficou ainda mais evidente os fragmentos da família Sinclair.
Atuações: Um elenco bonito, talentoso... e um pouco contido
Esse talvez seja o ponto que posso dizer que deixou um pouquinho a desejar, porém, vamos dar o braço a torcer: Emily Alyn Lind (Cadence) segura bem o peso do protagonismo, apesar de não ter tanto carisma, mas faz sentido para a história. A menina entrega dor, confusão e aquele ar poético-desorientado com uma boa competência.
O trio restante dos mentirosos tem um carisma que oscila bastante entre dar o gás e ser contido demais, às vezes parece que os atores/personagens estão mais em um editorial da Teen Vogue do que tentando lidar com traumas familiares intergeracionais.
Faltou só um pouquinho mais de... desespero existencial, sabe? Aquela coisa que te faz olhar pro nada depois de fechar o livro e repensar sua existência. Acho que os atores não conseguiram captar essa emoção e repassar para nós, telespectadores.
Temas: Segredos, culpa e uma família rica que precisa urgente de terapia
Tanto no livro quanto na série, temos aquela crítica sutil (ou nem tanto) à elite branca norte-americana: rica, racista, controladora e emocionalmente disfuncional.
A obra fala sobre luto, negação, pressão familiar, identidade, culpa, e a ilusão da perfeição. Só que no livro, tudo isso vem embrulhado numa escrita quase poética que engana o leitor do início ao fim.
Na série, esses temas estão presentes de forma mais direta, mas a narrativa mais linear deixa as pistas mais óbvias. É como jogar Detetive com as cartas viradas pra cima, sem contar que toda a questão de herança é algo absurdamente mais pungente e controlador de emoções, parece uma bomba relógio.
Livro vs Série:
Quem mente melhor?
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No livro: você se sente um detetive emocional. Cada frase é uma pista, cada metáfora é uma bomba-relógio disfarçada. Quando o final chega, você volta páginas dizendo “NÃO, NÃO, NÃO”.
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Na série: o clima está lá, mas a forma como os segredos são entregues tira um pouco do impacto. A fotografia é linda, o figurino é uma propaganda da Ralph Lauren, mas a dor crua e as rachaduras da narrativa original foram polidas demais.
Resumo da treta:
O livro mente como um profissional. A série mente, mas parece que sente culpa depois. Porém para quem não leu o livro primeiro vai ter sua dose de impacto, sim! Digo isso porque meu marido assistiu comigo - sem ler o livro - e ficou "COMO ASSIM? É ISSO MESMO? ISSO É REAL?", daí a gente foi conversar e ele começou a superar a crueldade e o impacto dos acontecimentos.
Conclusão: leia antes de ver (e depois leia de novo)
Se você quer ser enganado com maestria, vá direto no livro. Se você já leu e quer ver os personagens ganhando vida, ainda que em versão mais "censura 14 anos", a série é um prato bonito que alimenta a nostalgia, mas não mata a fome emocional como o livro.
Agora, se você não leu, nem viu, nem sabe de nada…
Corra. Antes que alguém te dê spoiler.
(Porque quando ele chega... a sua alma fica presa na ilha com os mentirosos pra sempre e a gente NUNCA MAIS ESQUECE.).
Obrigada por terem lido e até a próxima postagem!
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