Recentemente finalizei a leitura de Persuasão, de Jane Austen e já fui em seguida revisitar a história através do filme com o mesmo título, assisti a versão mais contemporânea, de 2022, no entanto preciso assistir outras versões adaptadas desse livro que, pelas avaliações, são melhores que esta.
Como fã da literatura de Austen, e Persuasão ter sido um dos meus favoritos da autora, a expectativa era alta para ver como a adaptação da Netflix lidaria com a melancolia e o romance sutil de Anne Elliot. A propósito, aqui no site tem opinião sobre outras adaptações dos livros da autora.
No geral, gostei do filme, achei um bom entretenimento. Ele tem uma leveza, é visualmente agradável e a performance de Dakota Johnson como Anne Elliot é carismática e moderna, no entanto, senti que, ao buscar essa modernidade, a adaptação sacrificou a profundidade, a fidelidade com a obra e o impacto que tornam o livro uma obra-prima. Faltaram partes interessantes que poderiam dar mais substância e peso à história, como deram ao livro... Deixem-me contar mais para vocês:
Ano: 2022
Direção: Carrie Cracknell
Duração: 109 min.
Classificação: +10
Gênero: Romance. Drama;
País de Origem: Estados Unidos
Minha Avaliação:⭐⭐⭐
Sinopse: Anne Elliot (Dakota Johnnson) é uma jovem obstinada que vive com a esnobe família à beira da falência. Quando Frederick Wentworth (Cosmo Jarvis), um antigo amor que ela dispensou anos antes reaparece, Anne precisará escolher entre deixar o passado para trás ou dar uma nova chance ao seu coração. Baseado no romance homônimo de Jane Austen. (Fonte: Filmow)
O TOM MODERNO E A QUEBRA DA QUARTA PAREDE
O ponto de maior destaque e divergência deste filme com o livro é, sem dúvida, a escolha estilística de transformar Anne Elliot (quem narra a história para a gente) em uma heroína cômica, que quebra constantemente a quarta parede e olha para a câmera e fala com o telespectador, tecendo comentários irônicos e às vezes dramáticos e exagerados sobre sua família e sua vida.
Essa escolha confere ao filme um ritmo ágil e divertido, mas se distância da Anne Elliot, na versão literária, que é uma personagem mais madura, marcada pela resignação, sensibilidade e melancolia silenciosa além de muita inteligência. Sua dor é interna, seu charme reside na sua quietude e na profundidade de seus pensamentos não ditos.
O filme, ao contrário, faz de sua dor um espetáculo de piadas sarcásticas, tornando a personagem não tão madura e sensata assim. E devo confessar que demorei um pouco para perceber que, mesmo tendo gostado da adaptação e da performance de Dakota Johnson, essa versão de Anne me incomodou por se distanciar do livro que eu tinha praticamente acabado de ler (finalizei um dia antes de assistir ao filme).
DIVERGÊNCIAS CRUCIAIS ENTRE LIVRO E FILME
A minha sensação de que faltaram partes interessantes se concentra exatamente nas mudanças de tom e enredo que reduziram o impacto que a obra literária tem em perspectiva com a película.
No livro, a beleza da história reside no fato de que o leitor e Anne sabem de seu amor e arrependimento, mas a sociedade e Wentworth não têm total ciência de sua dor contida há longos 8 anos. O filme, no entanto, torna tudo explícito demais, logo de cara.
A adaptação insiste em retratar Anne como uma figura que vive se afogando em vinho e lamentando abertamente, o que é um desserviço à Anne literária, que é absolutamente sutil, discreta e digna de ser admirada, uma mulher com um caráter impressionante.
Ademais, me incomodou que no filme, a icônica e emocionante carta de Wentworth é encontrada por Anne de forma bastante casual, jogada sobre a mesa, e lida em voz alta. No livro, a carta é o clímax da tensão romântica, um momento de absoluta discrição e intimidade que define o relacionamento. No filme, a casualidade da cena diminuiu significativamente o impacto avassalador e definitivo que o livro proporciona.
Outro ponto que me incomodou é que o livro descreve longos passeios e a introspecção de Anne, mas no filme a narrativa é acelerada. A riqueza dos pensamentos de Anne, que no livro dão densidade à sua personagem e à trama, é substituída por comentários rápidos e espirituosos dirigidos à câmera. Essa troca fez com que a história perdesse sua base de romance contemplativo.
Outra grande divergência entre livro e filme que me deixou estarrecida foi a família Elliot, OK, eu entendo que no livro os Elliot são personagens superficiais, mas o filme os deixou personagens caricaturais e ainda mais simplificadas, até mesmo simplórias, servindo apenas como escadas para as piadas de Anne, que o tempo todo zomba de sua família. No livro, a vaidade de Sir Walter e a hipocondria de Mary são críticas sociais sutis. No filme, são apenas alívios cômicos.
Também foram deixados de lado no filme toda a emoção do acidente, os dias de agonia após o ocorrido de Louise, tudo foi tão minimizado que não teve o mesmo impacto, sobretudo nas posturas dos personagens.
Por fim, porque já deve estar parecendo que não gostei do filme e eu gostei, só que não correspondeu minhas expectativas, quero dizer mais uma coisa que ficou de fora e que reforçavam o caráter gentil e caridoso de Anne: foi a reaproximação dela com uma amiga antiga, essa amiga sequer existiu na película, enquanto no livro ela é peça crucial para Anne ligar alguns pontos e tomar suas decisões.
CONCLUSÃO: UMA ADAPTAÇÃO DIVERTIDA, MAS SEM A FORÇA DO ORIGINAL
A versão de 2022 de Persuasão é um filme que entretém, se for assistido sem a referência do livro, ele pode funcionar como uma comédia romântica leve e moderna.
Porém, para quem leu e amou a profundidade e a melancolia elegante do livro e gosta de fidelidade entre filme e livro, a adaptação soa como uma versão simplificada e apressada. A ênfase no humor e na modernidade diluiu a seriedade do arrependimento e a doçura da segunda chance.
Gostei de ver a história na tela e do charme de Dakota Johnson, mas senti falta daquelas partes mais interessantes, carregas de tensão não dita e emoção contida, que me deram impacto durante a leitura. Gostei de ver a inclusão de pessoas negras em papel de destaque na sociedade, algo muito similar com o que vemos na série Bridgerton como uma forma de reparação histórica.

A película de Persuasão é aquele tipo de adaptação que, infelizmente, troca a poesia da espera pelo prazer imediato do meme. Vale a pipoca, mas não substitui o livro (apenas escolham a edição do livro mais adequada, veja minha resenha e entenda esse comentário).
Espero que tenham gostado deste veredito! Obrigada por terem lido e até a próxima postagem!
Caso você já tenha lido o livro e/ou assistido ao filme, me conte nos comentários o que você achou...









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