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Resenha: O Inventário das Coisas Ausentes - Carola Saavedra

segunda-feira, 24 de junho de 2019

O Inventário das Coisas Ausentes, Carola Saavedra, 
São Paulo: Companhia das Letras, 2014, 128 pág.

Saudações Leitores!
O Inventário das Coisas Ausentes (2014), escrito por Carola Saavedra (uma escritora que passei a admirar), é quase um livro dentro do livro, além do mais, há tanto em suas entrelinhas que as 128 páginas tornam-se muito mais, levando em conta a perspectiva subjetiva. Carola escreveu outros dois livros resenhados, aqui, no blog: Paisagem com Dromedário e Com Armas Sonolentas.

O livro é dividido em duas partes: Caderno de Anotações e Ficção. Além do mais, a estória é contada por um narrador, que é escritor. O narrador vai descortinando partes da vida de Nina, uma jovem de 23 anos que lhe deixa dezessete diários antes de sumir, ao passo que também vai revelando partes de sua própria vida e dos seus projetos literários, bem como exibindo algumas de suas ideias para livros e as possibilidades de desenvolvimento.
"... sempre gostei de pessoas sentadas num banco, sozinhas, escrevendo ou desenhando, dão a impressão de que se bastam, apenas elas e o caderno. São pessoas que não precisam de ninguém, ninguém que as entretenha, ninguém que lhes faça um agrado, ou lhes diga algo triste ou surpreendente."
O Inventário das Coisas Ausentes carrega uma atmosfera de sonhos com contornos reais, que, realmente, acabam se tornando o que o título propõe: um inventário de coisas ausentes, pois, com o desenvolvimento do enredo, o leitor é capaz de perceber que o que está escrito ali, o que está sendo inventariado, não é a estória ou os acontecimentos, mas a ausência de sentimentos, de amor, de Nina e dos próprios sonhos.
"Há certas brigas que parecem ter estado ali o tempo todo, esperando para tomar corpo. Qualquer descuido. Brigas que carregam consigo todos os ódios, todas as frustrações. Brigas assim, quando começam, não há nada capaz de freá-las, como se alimentadas por uma força inesgotável."
Tendo em vista isso O Inventário das Coisas Ausentes adquire uma ângulo completamente desafiador, doloroso, singular e visceral. É possível sentir a carga exacerbada da solidão, das dores do narrador, das inseguranças em suas relações e de seus sentimentos pela inconsequente, egoísta e admirada Nina.
Entretanto, mesmo sendo um livro tão intenso O Inventário das Coisas Ausentes traz um ponto desfavorável: sua construção e estrutura narrativa são difíceis e muito fragmentadas, de modo que exige muito do leitor que pode acabar não se conectando e se entregando tanto ao que está sendo contado e ao não dito no romance.

Não obstante, quem já conhece o estilo de Carola Saavedra poderá sentir como se estivesse revisitando uma narrativa conhecida e de total entrega e subjetividade. O ideal é que a leitura seja feita paulatinamente, como se o leitor estivesse "degustando" um bom prato.
"... quando o amor acaba resta apenas a ficção."

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