Um Amor Incômodo é o tipo de leitura que não é uma experiência confortável mas, sem dúvida, é transformadora.
Saudações, Leitores!
Hoje venho falar de Um Amor Incômodo, lançado originalmente em 1991 e se trata do primeiro livro publicado da escritora Italiana que utiliza o pseudônimo de Elena Ferrante. Esse é o segundo livro que leio da escritora, anteriormente li A Vida Mentirosa dos Adultos, que mexeu muito comigo e apesar de lembrar ter sido uma leitura um pouco lenta, foi um livro extremamente impactante, inquietante, desconfortável e visceral. Um Amor Incômodo segue essa mesma linha. A propósito, esse livro foi adaptado para um filme chamado L'Amore Molesto (1995).
Em Um Amor Incômodo vamos nos debruçar sobre os meandros mais obscuros das relações familiares e a complexidade do universo feminino, que já deu para perceber ser as temáticas que a autora aborda desde seu primeiro livro.
Na trama acompanharemos a narradora Delia, uma mulher de meia-idade que retorna a Nápoles, sua cidade natal, para investigar as circunstâncias misteriosas da morte de sua mãe, Amalia. A história se desenrola como um quebra-cabeça psicológico, onde Delia revisita memórias de infância, marcadas por traumas e segredos, enquanto tenta compreender as camadas mais profundas da vida de Amalia e, por extensão, a sua própria. Além de tentar entender como era sua relação com a mãe e com os demais membros de sua família.
Ferrante entrelaça habilmente passado e presente, criando um mosaico que desvela não apenas a relação conturbada entre mãe e filha, mas também as pressões sociais, os papéis impostos às mulheres e os resquícios de uma violência estrutural que permeia a narrativa. Vale ressaltar, no entanto, que algumas vezes a narrativa gera uma confusão no leitor e por isso exige uma leitura atenta, mas normalmente, livros com narrativas mais psicológicas tendem a ser mais lento e mais confusos.
Acredito que em Um Amor Incômodo temos um misto de sentimentos tão pulsante que o que encontramos no volume e a forma como a escritora escolheu para contar essa história pode - para alguns leitores - ser considerado pontos positivos ou negativos ao mesmo tempo, por exemplo, a escrita de Elena Ferrante é visceral e pungente, ela não poupa o leitor da crueza das emoções e das situações descritas., vai ter quem goste disso e quem desgoste, certo? Além do mais a atmosfera densa e claustrofóbica que permeia o livro é um testemunho da habilidade da autora em criar ambientes psicológicos que espelham os conflitos internos das personagens e, de certo modo, nossos próprios conflitos. Este livro conversa com o leitor, sem dúvida!
Outro aspecto fascinante é a forma como Ferrante aborda os temas de identidade e memória. A narrativa nos conduz por um terreno onde as lembranças são moldadas por emoções e preconceitos, desafiando nossa percepção do que é real. Além disso, a ambientação em Nápoles – com seus becos estreitos, casas sufocantes e dinâmicas sociais opressivas – atua quase como um personagem, contribuindo para a construção de um cenário que é ao mesmo tempo familiar e perturbador.
Apesar de sua intensidade, Um Amor Incômodo pode ser uma leitura árdua. A estrutura fragmentada, com mudanças abruptas entre passado e presente, pode ser desafiadora para leitores que preferem uma narrativa mais linear. Além disso, a abordagem implacável de temas como abuso, violência e relações familiares disfuncionais pode ser desconfortável, especialmente para leitores que buscam escapismo ou leveza. Cuidado com gatilhos!
Outro ponto que pode causar desconexão é a falta de resoluções claras. Ferrante prefere sugerir, em vez de explicar, deixando o leitor mergulhado em ambiguidades que podem ser tanto fascinantes quanto frustrantes. Aqui quero dizer que minha leitura ficou bem divida entre fascinação e frustração. Ao fechar o volume fiquei com essa sensação conflitante, sabe?
Um Amor Incômodo é uma obra que provoca, desafia e desconcerta. Elena Ferrante explora os recessos mais sombrios da psique humana, oferecendo um retrato cru e autêntico das complexidades emocionais que definem nossas relações mais íntimas.
Embora a experiência de leitura possa não ser confortável, ela é, sem dúvida, transformadora. Quanto mais penso sobre a experiência acredito que gostei e me perturbei com a obra na mesma medida, reconhecendo em suas páginas um espelho desconcertante das angústias e fragilidades humanas.
Sim, recomendo a leitura para aqueles que buscam literatura que provoque reflexão e não temem enfrentar o desconforto das verdades não ditas. Ferrante nos presenteia com uma história que é, acima de tudo, profundamente humana, mostrando um amor real, sem a romantização padrão (pureza, ingenuidade, perfeição, doação) que vemos difundido por aí, pois na realidade esse amor não existe é uma grande mentira; o amor real é a certeza de que mesmo amando alguém, ainda assim, iremos magoá-la, não existe pureza e nem espaço para ingenuidade, o amor humano é imperfeito como nós somos imperfeitos nas nossas relações.
Pra finalizar creio que é impossível não terminar o volume com um baita incômodo, com um reboliço dentro da gente por termos encarado nossa parte feia e a fragilidade das relações que construímos.
Espero que tenham gostado deste veredito e até o próximo post!
FICHA TÉCNICA |
Título Original: L'amore Molesto Autor: Elena Ferrante Tradutor: Marcello Lino Gênero: Ficção. Drama. Romance. Editora: Intrínseca Ano: 1991/2017 | 176 págs. País de Origem: Itália Classificação: +16 Aviso de Conteúdo: Violência Doméstica. Suicídio. Abuso. Abuso infantil. Racismo. Morte de parente. Minha avaliação:⭐⭐⭐❤️(3/5) |